Da Aldeia Global à Globalização*
por Luiz Roberto Londres
Durante séculos a vivência dos seres humanos se restringia ao pedaço de terra em que viviam. Para conhecer ou tomar ciência de outros lugares tinham que deixar seu ambiente e se deslocarem para outras plagas. Notícias só através de outro ser humano que viesse das distâncias com algo a dizer ou mostrar. A única exceção talvez fosse o pombo-correio. Tempo, energia e recursos eram consumidos nessa tarefa, seja a pé, a cavalo, por mar ou sobre rodas. Os meios de transporte por superfície, fosse por via terrestre ou marítima, agrupavam pessoas em um veículo. As asas apenas vieram tornar essas viagens mais rápidas.
O telégrafo diminuiu consideravelmente o tempo da comunicação escrita, e o telefone possibilitou esse contato em tempo real. O rádio e, posteriormente, a televisão, aos poucos, foram trazendo a cidade, e depois o país e o mundo, ao local onde estavam as pessoas. Invertia-se, assim, o fluxo: de ativo que era, tornava-se passivo. Essa situação perdurou até o aparecimento da Internet, que coincidiu com o domínio das grandes redes de comunicação. Com isso, todo o mundo estava em todos os lugares e ao mesmo tempo, por vezes em tempo absolutamente real - isso é o que acreditamos. Na verdade, algumas partes do mundo ocupam todo esse espaço, enquanto outras são lembradas apenas nas catástrofes.
Este "ruído" de comunicação foi ocupando, nas mentes, o espaço que antes era ocupado pelo seu "em torno". Vivências e emoções antes desconhecidas se incorporavam à vida quotidiana. Preocupações distantes passavam a ser ameaças iminentes. E os veículos da mídia logo perceberam que provocar a produção de altas doses de adrenalina através de notícias catastróficas e ameaçadoras prendia a atenção de todos. Vemos hoje a criação de manchetes que representam um fato isolado, por vezes até quase corriqueiro, mas apresentado de modo extravagante. Vemos a supervalorização de tudo o que pode causar indignação ou temor. A página policial da minha juventude, hoje ocupa todo o jornal, seja ele escrito, falado ou televisado.
Marshall McLuhan é um nome bastante citado quando o assunto é comunicação. Há quase 50 anos, em seu livro "Understanding Media", ele faz uma análise do progresso dos meios de comunicação. É dele o termo "aldeia global" e é dele a sentença "o meio é a mensagem". E, se perdermos um pouco de nosso tempo pensando sobre o assunto, veremos que, como em muitas outras áreas (entre as quais, além da Imprensa, a Educação, a Política e a minha Medicina) o progresso dos meios se dá às custas das finalidades.
E é bom entendermos que, quando os meios viram fins, os princípios desaparecem.
* Artigo publicado na Revista Menorah