As Tábuas da Lei*
por Luiz Roberto Londres
A imagem de Moisés descendo do monte Sinai e encontrando seu povo adorando um D'us de ouro construído pelos homens talvez possa traduzir, silenciosamente, os clamores da atual crise. São os ecos de um povo sofrido que, tendo acabado de se libertar de quatro séculos de escravidão, entrava em desencanto por imaginar que seu líder os havia deixado. Em busca da proteção divina, abandonava a transcendência do mundo espiritual para se curvarem a nada mais que uma forma da matéria bruta.
A história do povo de Israel é formada de uma avalanche de princípios, conhecimentos e ensinamentos. Berço do monoteísmo, dela derivam tantas outras religiões que, em seu desenrolar, nos remetem à mesma origem, a Abraão, a Ur, à Mesopotâmia; e nos conduzem, por caminhos diferentes, ao mesmo porto, porto esse que não está ao nosso alcance durante nossa vida terrena. Lá estará um D'us, cuja face intuímos, mas não vemos, cuja proteção nos chega independente de nosso chamado, cujo perdão nos conforta e cuja luz nos ilumina.
O D'us de ouro que Moisés encontra ao descer do Sinai teima em se fazer construir e se fazer adorar. Por vezes esquecemos que o dinheiro, mais do que um bem em si, é apenas a representação de um bem real que, se dele desvinculado, torna-se um significado sem significante, um símbolo sem uma base que a sustente. A pirâmide se inverte e, perdendo a sustentação de sua base, torna-se instável precisando da velocidade para permanecer de pé, gerando uma força centrífuga que a puxa para todos os lados.
Acredito que estamos em tempo de repensar os ensinamentos divinos, transmitidos a Moisés: "Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás." Estas palavras devem permear todos os nossos atos. Seria interessante relembrarmos a quem devemos servir em nossas atividades diárias para que estejamos em consonância com o desejo divino; principalmente naquelas atividades onde o espírito de solidariedade deve reinar sobre qualquer desejo particular.
* Artigo publicado na Revista Menorah