Medicina, porque liga o estudo científico do homem e valores humano profundamente enraizados, oferece um campo para a resolução entre abstrato e concreto, ciência e humanidades, a procura do conhecimento e a procura do bem-estar.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Quando Medicina e filosofia convergem, podem fazer progredir a busca do homem em direção a uma imagem unificada dele mesmo e do mundo; quando divergem, essa imagem fica fragmentada, confusa e mesmo absurda.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Medicina e filosofia se enroscam como os filamentos de uma complexa - do intelecto. Elas estão intermitentemente mergulhadas em conjunto pela sua imersão na existência humana, e separadas por suas preocupações freqüentemente opostas em relação a essa existência. Tensões características surgem de suas pretensões em relação à universalidade - Medicina divinizando o corpo e o particular, filosofia o intelecto e ao abstrato.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
As ações da Medicina ligam essas duas pessoas (médico e paciente). É a natureza dessa ação na presença da relação de cura que dá à Medicina um caráter especial dentre as atividades humanas.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
As capacidades da Medicina moderna são tão impressionantes e penetrantes que todos nós somos afetados pela maneira que nós construímos a Medicina e justificamos suas finalidades e seus propósitos.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
A filosofia da Medicina que procuramos é uma filosofia de uma atividade humana identificável, não uma miscelânea das ciências e artes empregadas pela Medicina. Nós afirmamos que a Medicina não é redutível à biologia, à física, à química, ou à psicologia; nem é apenas o que os médicos fazem ou esperam; nem é simplesmente uma ciência rigorosa ou apenas uma arte de fazer o bem em eventos clínicos. Ao invés, mostramos que Medicina é uma forma única de relacionamento.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
O profissional da área da saúde, particularmente o médico, é considerado responsável pelas implicações científicas, médicas, legais e morais de suas decisões.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Holman sugeriu que "alguns resultados médicos são inadequados não por falta de intervenções técnicas apropriadas, mas porque nosso pensamento conceptual é inadequado".
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
A Medicina sofre de uma abundância de meios e de uma pobreza de finalidades.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Desviar-se dos caminhos da ética é arriscar-se em perspectivas sombrias. A ciência não é um valor absoluto a que todos os outros estejam subordinados. Ela tropeça quando vai de encontro às normas que consagram e protegem a dignidade humana.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Entretanto, o que se procura na maioria das vezes é aceitar-se um neutralismo ético, apoiando-se numa falsa concepção moral em que se busca mais o interesse próprio, afastando-se cada vez mais da correta conceituação, segunda a qual deve o homem atual desenvolver uma moral eminentemente solidária, inteligente e universal.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
O espírito hipocrático está morrendo. Surge uma nova terminologia médica: faturamento.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Muitas vezes o paciente não está interessado no diagnóstico nem na terapêutica, mas exclusivamente, no tempo para o pronto restabelecimento.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
... O tempo é fundamental na relação médico-paciente. Para o doente, é muito mais importante o tempo psicológico do que o tempo do relógio.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A opinião pública está tão fascinada pelo vertiginoso progresso da Biologia que chega, muitas vezes, a esquecer o lado da verdade.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Em tese toda lei é injusta. O próprio texto bíblico sentencia que a letra da lei mata e o que salva é o seu espírito. O que a torna justa é sua aplicação na realidade concreta, a aplicação do geral no particular. O direito não é um fim, mas um meio a serviço do homem.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A ciência não é um valor absoluto a que todos os outros estejam subordinados; ela tropeça quando vai de encontro às normas que consagram e protegem a dignidade humana.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
O título de médico, e o de certas especialidades mais laboriosas e de distinguida habilidade, pode provar ciência, mas a idoneidade profissional é testada no longo desempenho do ofício, demonstrada com atos e fatos exigidos pelos costumes e pela moral.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
As normas gerais só se tornam definidas quando trazidas do plano abstrato para uma realidade concreta. O que as tornam justas é a sua adaptação ao caso particular, procurando-se um meio de não sacrificar o justo, a fim de que os fatos não entrem em conflito com as normas.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Os limites da possibilidade de modificação do corpo humano se situam naquele ponto onde começam a comprometer-se a moral e a dignidade do próprio homem.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A Medicina de hoje transforma o médico num especialista frio e impessoal, que recebe seus clientes transferidos, muitas vezes, daqueles com quem mantinham laços fraternais que uniam as famílias e as aconselhavam.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Uma profissão que penetra na intimidade da vida do indivíduo e na coletividade necessita de grande apoio jurídico que lhe dê segurança pessoal e garantia no exercício do seu ministério.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
O direito é coercitivo e atinge a vida social, enquanto a moral vive na subjetividade e atua na vida interior.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Mesmo assim, em qualquer hipótese, o direito médico sempre estará subordinado à moral médica.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Hoje já não vivemos a época em que a ciência médica era apenas uma arte pessoal e íntima, numa relação estreita entre médico e paciente. A sociedade interveio entre um e outro e a Medicina socializou-se.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A Medicina previdenciária e das companhias de seguros tornam os pacientes profundamente perturbados nos interesses dos seus direitos, muito mais que na saúde.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
As pesadas obrigações jurídicas que surgem da evolução contemporânea são a inevitável contrapartida das enormes possibilidades da Medicina moderna.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
De um lado, a Medicina com sua moral autônoma e imposta pela circunstância e, de outro, o legislador e o magistrado como guardiões da ordem pública.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Há de chegar o tempo em que se fará necessário uma seleção rigorosa, no sentido de se apurar o verdadeiro pendor daqueles que se apresentam ao ingresso nas Faculdades de Medicina, procurando-se as razões dessa escolha através de enquetes e testes vocacionais, podendo-se, inclusive, indicar aos candidatos as profissões para as quais tenham verdadeira inclinação.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A vocação não é, como muitos pensam, um estado sentimental ou afetivo, mas, antes de tudo, um estágio de consciência.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Existe uma crise de vocação na profissão médica, que dia-a-dia se acentua numa marcha irreversível. A flama do espírito hipocrático não mais seduz, e a inclinação para a Medicina decorre, na maioria das vezes, da fascinação que a fortuna fácil parece favorecer aos que se infestem nesta profissão.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A Medicina que era um "diálogo entre a consciência e a ciência", uma arte solitária, pessoal e íntima, tem nos tempos atuais, entre o médico e o paciente, um terceiro elemento que é, incontestavelmente, a sociedade, como sujeito de direito.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
No entanto, por um processo curioso e paradoxal, é neste instante de maior progresso e de resultados fantásticos, que a Medicina se apresenta em estado de sobressalto, pois sua ética não acompanhou o mesmo ritmo de suas incontestáveis conquistas.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
É impossível alguém conduzir-se dentro da moralidade simplesmente pela coação ou pela força.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A Ética não se propõe a orientar uma situação concreta ou particular, mas sobretudo a criar um sistema de normas, com a finalidade de um comportamento individual como um todo.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Infelizmente os estudantes não são suficientemente informados nesse sentido. Não bastam apenas a distribuição dos Códigos e a citação ocasional de seus artigos, necessitando-se, principalmente, de comentários profundos e exemplos concretos, a fim de que o futuro médico tenha consciência de como exercer sua profissão com dignidade justeza.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Mesmo que os mais diversos fatores sociais contribuam para uma conceituação moral, constitui a Ética uma decisão livre e consciente, assumida por uma convicção pessoal e interior, que nos leva a decidir quando da realização de um ato social.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Enquanto o médico se atém aos doentes e às doenças, o filósofo da Medicina converte em problemas essa realidade. E quando o médico, ao encontrar solução para cada caso, dá-se por satisfeito, começa então a Medicina Legal a formular inúmeras interrogações, num sentido eminentemente transcendental.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A penicilina cura os homens, mas o vinho é que os faz felizes.
Alexander Fleming (descobridor da Penicilina)
... Devemos todos ter em mente que o remédio mais usado em medicina é o próprio médico, o qual, como os demais medicamentos, precisa ser conhecido em sua posologia, reações adversas e toxidade.
Michael Balint (O médico, seu paciente e a doença)
Que não se desesperem os doentes. Daqui a duzentos anos, a Ciência terá descoberto a cura para todos os males.
Eno Teodoro Wanke (Pensamentos Moleques)
A natureza parece quase incapaz de produzir doenças que não sejam curtas. Mas a medicina encarrega-se da arte de prolongá-las.
Marcel Proust (1871-1922) (A Prisioneira)
Quando nos toma o pulso, o médico confere o relógio.
Mário da Silva Brito (Cartola de Mágico)
Quando o doutor escreve a receita, olha-nos uma última vez para ver se põe um remédio dos caros ou dos baratos.
Ramón Gómez de La Serna (1888-1963) (Greguerías)
Muitas vezes existe a obrigação, para os médicos, de soltarem conscientemente tolices para salvarem a honra ou a vida das pessoas sãs que se encontram em volta do doente.
Honoré de Balzac (1799-1850) (César Birotteau)
Se vosso médico não acha bom que durmais, que useis vinho ou tal carne, não vos preocupeis: encontrar-vos-ei outro que não será da opinião dele.
Michel de Montaigne (1533-1592) (Ensaios: Da Experiência)
Um por cento de terapêutica, noventa e nove de nomenclatura.
Millôr Fernandes (Dicionário de Idéias Imediatas)
A medicina fez, desde um século, progressos sem parar, inventando aos milhares doenças novas.
Louis Scutenaire (Minhas Inscrições)
O segredo da medicina é que todas as doenças são incuráveis.
Pedro Nava (1903-1984) (Galo das Trevas)
Já sabia que a verdade de hoje pode ser o erro de amanhã... Que toda a Arte Médica estando em constante reformulação e reforma, tudo que é atual e moderno é duvidoso e esconde uma mentira ou um engano que os tempos vão tornar aparentes.
Pedro Nava (1903-1984) (Galo das Trevas)
Penso que a medicina não acaba no hospital, como se pensa freqüentemente, mas lá só faz começar.
Claude Berbard (1813-1878) (Introdução ao Estudo da Medicina Experimental)
Objetivo supremo da medicina, desgraçadamente nem sequer projetado: tornar contagiosa a saúde.
Walter Benevides (1908-1980) (Visitas de Médico)
Não há investimento melhor para qualquer comunidade do que pôr leite em bebês. Cidadãos saudáveis são o maior bem que qualquer país possa ter.
Winston Churchill (1874-1965) (Um Plano de Quatro Anos. Discurso no Rádio, 21.3.1943)
Não é ter saúde que é bom, não a ter é que é ruim.
Abgar Renault (1901-1995) (Conta-gotas - do Suplemento Literário do 'Minas Gerais', 11.11.1984.)
Não submeter a saúde a provas estúpidas, mas também não poupá-la com mimos excessivos. Cavalgar bem a sua saúde para poder fazer com ela viagens longas.
Gilberto Amado (1887-1969) (Depois de Política, XXXVI)
A saúde é o estado no qual as funções necessárias se cumprem insensivelmente ou com prazer.
Paul Valéry (1871-1945) (Pensamentos Maus e Outros)
Dai-me saúde e um dia, e tornarei ridícula a pompa dos imperadores.
Emerson (1803-1882) (Ensaios: "Natureza")
Deve-se rezar para se ter uma mente sã em um corpo são.
Juvenal (60-130?) (Sátiras, X, 356)
Na medida em que a socialização da Medicina importe em despersonalização das relações entre pessoas doentes e médicos que deixem inteiramente de ser pessoais, essa socialização estará a realizar-se com prejuízo dos indivíduos dependentes não com os indivíduos biológicos, porém como pessoa, de cuidado médico.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
O Prof. Edward T.Hall lembra no seu The Silent Language (Nova York, 1959), que o êxito já obtido pela Medicina ocidental não nos deve impedir de reconhecer validade médica ou terapêutica em "curing practices of other societies".
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... como a favor do exercício, pelo médico, de uma Ciência que, sendo também Arte, não pode prescindir como Arte, do elemento psicológico - inclusive o mágico - para depender apenas do lógico.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... grupos que, por sua orientação cultural, por sua organização social e por sua tecnologia e economia rudimentares, não toleram doentes senão por três dias.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Segundo os sociólogos da Medicina, na grande maioria dos casos, os doentes desempenham papéis sociais temporários, enquanto os médicos desempenham papéis médico-sociais permanentes.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Por mais que acerte quanto às doenças, isto não o impedirá de fracassar com relação aos portadores dessas doenças, cada um dos quais desempenha o seu papel de doente conforme não só a sua constituição e a sua experiência, como diria um psicanalista, porém conforme também a sua situação, as suas situações e as relações atuais com a família e com a comunidade.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Daí os sociólogos da Medicina ingleses advertirem os médicos: "To be ill is more than a medical condition". E se a condição de um doente é mais do que uma condição médica, não se compreende que a educação do médico, sua instrução, sua preparação para o exercício da Medicina seja considerada completa se falta a essa preparação a parte psicossocial ou sociológica.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
A Medicina deve ser reconhecida como ciência não só biológica como social.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Quanto maior e mais moderno o hospital, maior a artificialização sofrida pelo doente que, nos meios mais progressivos, se apresenta ao médico sob o aspecto, quase indistinto de indivíduo para indivíduo, de uma nova figura social.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... e que inclua a sua iniciação - inclusive a de médicos - no conhecimento e de assuntos político-sociais e jurídico-políticos, sob critério quer científico-social, quer humanístico.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... e sob essa nova luz, o médico vem sentindo-se cada vez mais impelido a adotar do cientista social métodos de investigação em que se procure situar biograficamente a pessoa - o indivíduo socializado em pessoa - no seu meio ou na sua cultura.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Daí é que se chegaria ao moderno conceito, médico, ao mesmo tempo que sociológico, de haver da parte de pessoas socialmente desajustadas reações protetoras, capazes de passarem de medo, ansiedade, hostilidade, a alterações de funções orgânicas.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Como admitem "compreensivistas" esclarecidos, já não se admite hoje uma Medicina para a qual o paciente deva ser tratado por métodos baseados apenas em Etiologia Física, esquecidos os componentes psicossociais ou socioculturais da sua enfermidade.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Já há quem considere uma Medicina apenas científica ou apenas médica ultrapassada por outra, que se denomine "compreensiva" ou "compreensivista", no sentido de procurar compreender ou alcançar o doente o mais possível na sua totalidade de pessoa ou de indivíduo socializado em pessoa.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
De cada uma dessas dimensões (física, social, cultural), pode vir o chamado fator precipitante da doença, sem que os demais fatores devam ser desprezados, tal sua provável importância sob a forma de fatores contribuintes.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Precisa se acrescentar à terapia individual, outra, social.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Pioneiro (Henry E. Sigerist) da socialização da Medicina que não deixou nunca de reconhecer a necessidade de conservar-se "the personal relationship between physician and patient". Pois, "the patient does not want to consult a committee when he is in trouble nor can Medicine be practiced by a corporation".
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Na realidade, porém, é raro o doente e é rara a doença que existam independentes de suas circunstâncias. E estas são socioculturais. São ecológicas. Exigem do médico uma perspectiva que exceda à estritamente médica.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Talvez fosse útil ao médico que se destine à clínica submeter-se a exame, se não psicanalítico, psicológico, em que fossem consideradas suas experiências íntimas.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Do simplismo - ou do arcaísmo - das especializações fechadas, que ignorem, no trato de numerosos problemas técnicos, os componentes psicossociais de tais problemas, começam a resguardar-se, não só a maioria dos juristas como a dos médicos e a dos engenheiros dos países modernos.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... Deste modo, acontece serem situações físicas superadas por situações psicossociais.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
São alguns dos maiores físicos de hoje que apelam para os poetas no sentido de completarem a obra deles, físicos, ameaçada de tornar-se inumana se continuar obra exclusiva de físicos.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Outro ponto de contato entre a Sociologia e a Medicina é que nenhuma pode dar-se ao luxo de fragmentar-se excessivamente. Tal fragmentação excessiva tende a prejudicar o que nessas ciências precisa de compreensão.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
O médico precisa estar inteirado das relações da sua ciência, ou da sua profissão, com essas outras atividades, algumas delas prejudiciais ao exercício, por ele, da sua profissão ou ao cultivo, por ele, da sua ciência, como uma profissão ou uma ciência a que não pode faltar sentido ético.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Há, dentro dessa concepção de inter-relações e de situações, um universo tropical cuja presença não pode ser ignorada pelo homem moderno das regiões frias e temperadas.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Nem sempre o conhecimento médico coincide com a moral jurídica.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Uma filosofia da Medicina é necessária: para organizar seus crescentes sucessos; para formar um princípio que integre suas divididas especialidades; para oferecer uma explicação racional e científica de seus métodos; e para descobrir a relação entre os sistemas médicos do Oriente e do Ocidente de modo que cada um possa funcionar em uma comunidade mundial em expansão.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Tais enfermos não são vítimas de micróbios nem de vírus nem de infecções, porém, principalmente, e, por vezes, exclusivamente, de desajustamentos psicossociais ou sócioculturais.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
O enfermo, ou o desnutrido como pessoa desajustada da normalidade do grupo social e dos sistemas de cultura e de Economia a que pertence, é, tanto no seu ajustamento como no seu desajustamento, um objeto-sujeito de análise antropológica e de interpretação sociológica.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... do homem que de indivíduo biológico passe a pessoa, a membro de grupo, a participante de instituição, a agente de processo social.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
O Brasil atual, mais consciente das suas circunstâncias, já espera de seus médicos e de seus paramédicos em especialidades sanitárias e higiênicas quer práticas que de investigação e de educação, que representem papéis sociais mais amplos ou mais compreensivos que os de simples médicos ou paramédicos do tipo puramente clínico, por mais senhores de técnicas clínicas que se apresentem com desprezo pelas sanitárias ou higiênicas que sejam sociomédicas.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Logicamente, se precisamos resolver um problema de ética médica, alguma coisa que se pareça com uma teoria ética é requerida.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
... Por esta razão é importante se distinguir entre ética médica e a ética do médico... A ética do médico é muito mais um conjunto específico de ética aplicada.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Um acordo ou contrato ético é aquele construído fundamentalmente em confiança e fidelidade.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
O foco tem sido em temas éticos específicos - aborto, eutanásia, transplantes, confidencialidade, controle do comportamento - ou, mais recentemente, questões de saúde pública como alocação de recursos, compromissos com liberdade em nome de eficiência ou justiça, e a ética sobre a experimentação em humanos. O que ainda está faltando é uma discussão da ética.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Quando desafiados a justificar a ética de suas ações, médicos e outros profissionais de saúde invariavelmente apelam para um dos princípios éticos sucintos elaborados para definir a ética profissional.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Os fundamentos da ética médica pareciam, deveriam ser mais profundos que o mero consenso entre os membros de uma organização profissional em um tempo e lugar particular.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Nada mais natural a um pulso alterado no binário mais rápido, buscar-se a meloterapia de danças ternárias, valsas e minuetes graciosos que acalmem o organismo em sua carreira voluptuária para a morte.
Mário de Andrade (Namoros com a Medicina)
Ora, não seria razoável, digo mais, instintivo que esse fortíssimo poder biológico da música provocasse a idéia de utilizá-la na Medicina?
Mário de Andrade (Namoros com a Medicina)
Desculpem-me os médicos, mas a cura se dá, cancros desaparecem, artritismos e nefrites, à custa de amuletos orantes, pedrinhas vindas da África, galos pretos imolados ou garrafas de pinga esperdiçadas na onda da praia.
Mário de Andrade (Namoros com a Medicina)
A sede de ambrosia é hoje experimentada pelo comum dos mortais.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A medicalização da sociedade pôs fim à era da morte natural. O homem ocidental perdeu o direito de presidir o ato de morrer.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A morte não é representada como figura antropomórfica, mas como consciência macabra de si mesmo, como um apelo constante do túmulo escancarado.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A grande maioria dos diagnósticos e intervenções terapêuticas estatisticamente mais úteis do que prejudiciais aos pacientes tem duas características comuns: é pouco dispendiosa e pode ser aplicada facilmente de forma autônoma no seio da célula familiar.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Quanto mais as pessoas pensam ter necessidade de serem cuidadas, menos se revoltam contra o crescimento industrial.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Sob a pressão dessa nova sensibilidade para com a dor, a política tende a ser concebida menos como empresa destinada a maximizar a felicidade do que a minimizar o sofrimento.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A luta contra a dor começa somente quando Descartes separa o corpo da alma.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Finalmente, a dor era concebida como experiência da alma, mas de uma alma que estava presente no corpo inteiro.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O significado da dor era cósmico e mítico, e não individual e técnico.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Apenas uma abordagem da dor era, no entanto, impensável: a que visa fazê-la desaparecer.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Em resposta a certos tratamentos, o paciente se torna capaz de vegetar com sua dor sem poder sofrê-la: ele a olha como se olha um peixe através do vidro do aquário.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Atualmente a dor foi transformada em um problema de economia política.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Ao colonizar uma cultura tradicional, a civilização moderna transforma a experiência da dor. Retira do sofrimento seu significado íntimo e pessoal e transforma a dor em problema técnico.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Uma demanda idólatra de manipulação substitui a confiança na força de recuperação e de adaptação biológica, o sentimento de ser responsável pela eclosão dessa força e a confiança na compaixão do próximo, que sustentará a cura, a enfermidade e o declínio.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
É o ritual médico e seu mito correspondente que transformam a dor, a enfermidade e a morte, experiências essenciais a que cada um deve se acomodar, em uma seqüência de obstáculos que ameaçam o bem-estar e que obrigam cada um a recorrer sem cessar a consumos cuja produção é monopolizada pela instituição médica.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A saúde é a sobrevivência num bem-estar que sabemos ser relativo e efêmero.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O doente que havia servido de material educativo para o clínico transformou-se em matéria-prima para o avanço da ciência médica.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O nível de iatrogênese permanece fundamentalmente o mesmo se os próprios doutores estabelecem o montante de seus honorários, se ele é fixado a nível coletivo ou se todos os médicos são transformados em funcionários.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A Medicina não tem somente funções técnicas: ela constitui-se, entre outros, num sinal de status. Um dos principais objetivos das despesas médicas é produzir satisfações simbólicas que as pessoas apreciam pelo seu preço.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Os partidos políticos traduzem o desejo da população de estar com boa saúde em termos de organização dos serviços médicos.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O paciente é reduzido ao papel de objeto que se conserta, mesmo que não tenha qualquer possibilidade de sair da oficina - esqueceram-se de que ele poderia ser uma pessoa a quem se ajudaria a curar, ou a capengar a seu modo na natureza.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A política da saúde, como é quase sempre entendida, coloca sistematicamente a melhoria dos cuidados médicos antes dos fatores que permitiriam exercitar e melhorar a capacidade individual de cada um em assumi-la.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A definição da anormalidade muda de uma cultura para outra. Cada civilização cria suas próprias doenças... A atitude diante da anormalidade também varia de uma cultura para a outra. O mesmo sintoma pode excluir da sociedade um homem, seja executando-o, exilando-o, abandonando-o, encarcerando-o, hospitalizando-o, ou seja, mesmo cercando-o de respeito, donativos e subvenções.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Os profissionais tendem a agir como se os resultados de sua atividade se limitassem aos de caráter verificável de tipo operatório.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Quando os cuidados médicos e a cura tornam-se monopólios de organizações ou de máquinas, a terapêutica transforma-se inevitavelmente em ritual macabro.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O consumo de cuidados preventivos é cronologicamente o último dos sinais de status social da burguesia. Para estar na moda, é preciso hoje consumir check-up.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
É o volume global dos transportes que entrava a circulação; é o volume global do ensino que impede as crianças de expandirem a sua curiosidade, sua coragem intelectual e sua sensibilidade; é o volume sufocante das informações que ocasiona a confusão e a superficialidade, e é o volume global da medicalização que reduz o nível de saúde.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Quanto mais um país é pobre, mais o preço dos equipamentos ali é elevado.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O crescimento da parte das despesas médicas dentro do Orçamento e do PNB, ou seja, a medicalização do Orçamento e do PNB, constitui indicador global do declínio da autonomia biológica dos indivíduos, autonomia que se identifica com a saúde.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
As medidas técnicas que têm por objetivo a iatrogênese direta contribuem para o desenvolvimento de uma iatrogênese clínica de segundo grau, epidemia que já se pode verificar e descrever. As medidas técnicas ou burocráticas adotadas para evitar que uma Medicina maligna prejudique o doente tendem necessariamente a criar essa nova categoria de iatrogênese cuja etiologia é análoga à escalada destrutiva provocada pelas medidas contra a poluição.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Quentin Young, diretor do maior hospital de Chicago, afirma que os riscos de iatrogênese, provocados pelas precauções de evitar litígios e processos judiciários, causam maior mal que qualquer outro fator iatrogênico.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A mania de descobrir anomalias provoca uma nova epidemia, que se chama às vezes de não-doença iatrogênica. Essa não-doença se manifesta sob a forma de invalidez, exclusão da vida social, angústia e, bem freqüentemente, sintomas funcionais, tudo com origem no diagnóstico e tratamento prescrito. Em certos casos, o diagnóstico baseou-se na ignorância do médico; noutros, num erro do laboratório de análises clínicas, ou mesmo num mal-entendido com o paciente. No estado de Massachusetts (EUA), o número de crianças que se tornaram inválidas em seguida a um falso diagnóstico de doença cardíaca excede o das que estão em tratamento efetivo de doença cardíaca.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Estudo recente indica que os médicos que descobrem no próprio organismo sintomas do câncer retardam - mais que outros profissionais do mesmo nível de educação - o recurso ao diagnóstico e ao tratamento profissionais: estão bem conscientes do seu valor sobretudo ritual.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O tratamento dessas infecções (doenças infecciosas) poderia tornar-se bem mais eficaz na medida em que fosse desprofissionalizado e passasse a ser parte da cultura higiênica popular.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Contrariamente ao meio e às técnicas sanitárias não-profissionais, os tratamentos médicos consumidos por uma população são uma pequena parte e jamais ligada significativamente à redução do peso da morbidade ou ao prolongamento da esperança da vida.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A medicalização da vida é malsã por três motivos: o primeiro, a intervenção técnica no organismo, acima de determinado nível, retira do paciente características comumente designadas pela palavra saúde.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
... Como se quando nada mais pudesse ser feito pelo seu câncer, nada mais pudesse ser feito por ele.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Os velhos temem a morte muito menos que os jovens.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O modo de pensamento dominante me nosso tempo é o analítico racional, próprio da ciência. Este tipo de pensamento nos convenceu de que a solução dos problemas relativos à morte estão fora de nós, em coisas feitas para nós, e não vindo de dentro de nós.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O médico que vê o seu papel apenas como curador de doenças ou lutador contra a morte fica, geralmente, sem esperanças. O médico que sabe ser sua função ajudar os enfermos ao limite de sua habilidade tem condições de oferecer algo ao paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A morte traz o tempo de uma infinidade abstrata para uma realidade concreta.
Eric Cassell (The Healer's Art)
As doenças mais desabilitadoras de nosso tempo - doenças cardíacas, alguns tumores, acidentes automobilísticos - são, elas mesmas, nascidas de nossa cultura.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É comum ver pacientes com uma doença crônica agindo como se quisessem manter a doença em vez de se livrarem dela.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A palavra "artrite" pode ser mais desabilitadora do que o estado do corpo que ela representa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O problema principal não é o peso, mas o hábito alimentar, e leva muito, muito tempo para se alterar um estilo de vida como o hábito alimentar.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A função de tratar pode ser claramente distinguida da função de curar; e mesmo tendo poucas alternativas técnicas, as possíveis diferenças entre metas e atitudes são enormes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
... O balanço entre o ser e o corpo foi alterado. O corpo tornou-se uma coisa estranha, perigosa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Seu erro é confundir ele mesmo, o homem, com ele mesmo, o médico. Como homem ele não é, na verdade, em nada diferente dos demais, mas como médico ele é o representante do corpo em sua luta contra o destino, a doença e a morte.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um fato essencial em Medicina é que as decisões devem ser feitas se não por outra razão, a de que nenhuma decisão é, em si, uma decisão.
Eric Cassell (The Healer's Art)
As decisões tomadas pelo médico são, freqüentemente tomadas baseadas em probabilidades, algumas vezes incluindo a possibilidade de conseqüências terríveis. O resultado é que a dúvida é uma companheira constante do médico, dúvidas e medos que, exceto em raras circunstâncias, não podem ser compartilhados com o paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Sentimentos de onipotência e onisciência são tão freqüentes como aspecto da personalidade de cada médico que são praticamente uma chancela da profissão.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Outro aspecto importante dos fenômenos de transferência parece ser que, quanto mais doente estiver a pessoa, maior o acesso do médico ao centro da interface corpo-mente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O que se requer do médico é que ele esteja preparado para aceitar que um sentimento seu, interior, possa estar vindo do paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Eu estou sugerindo que um paciente esclarecido é aquele no qual o processo consciente foi conectado com o processo corporal.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O ponto que fica, todavia, é que o conhecimento médico move o universo da doença do desconhecido em direção ao mundo racional.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Muito pouco se faz para ensinar a extraordinária habilidade que as pessoas têm para se fazerem melhorar ou os meios pelos quais eles tornam-se parceiros na medicação ou uma outra modalidade terapêutica.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Porém a realidade que conta é a realidade cultural, e o sistema usado pelo curador ou pelo doutor deve ser acurado apenas nos termos da cultura na qual está sendo usado, pois serve para explicar a doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Enquanto seu papel como curadores de doença é bem conhecido, seu papel como cuidadores (de pessoas) permanece obscuro.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Cada passo à frente envolve uma desconexão com a maneira que nós éramos e, conseqüentemente, uma perda do "self" que era.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Algo deve ser adicionado na Medicina: uma consciência ampliada da condição humana, cidadania para o subjetivo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Não é suficiente ou mesmo justo forçar os médicos a se confrontarem com a necessidade de aceitar a responsabilidade de tomarem decisões morais sem lhes oferecer treinamento que possam lhes dar suporte nessa tarefa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O subjetivo não é menos real ou menos importante em Medicina, mas simplesmente um diferente tipo de realidade.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Eu adquiro o senso de responsabilidade de ser parte da anatomia de uma pessoa, assim como a vesícula é parte da anatomia de um corpo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Pular por cima da observação para a interpretação é um erro particularmente comum em dias de sofisticação psicológica.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É importante se fazer uma distinção entre as particularidades de uma personalidade e a psicologia de uma pessoa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Medicina trata de cuidado de pessoas por pessoas, tão simplesmente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mas, enquanto a avaliação do estado de uma doença é uma parte aberta e manifesta de seu trabalho, a avaliação da pessoa do paciente é geralmente uma parte latente e desconhecida da função do médico. Desta forma, a capacidade do médico vem não de um treinamento específico, mas de uma experiência crescente com as pessoas e com o mundo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Uma vez que o médico lida diretamente com o bem estar dos indivíduos, deve, a Medicina, ser reconhecida como uma profissão moral cujas ferramentas são, em parte, técnicas.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Talvez o seu mais daninho efeito para nossa vida como uma sociedade é que o conflito, em sua versão moderna, torna-se um embate entre o técnico e o moral.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A decisão médica afeta, não apenas o corpo, mas também a vida e o bem-estar do paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O sistema de pensamento médico em que foram treinados não incluía, como parte de sua preocupação profissional, aspectos de qualquer caso que caísse fora das concepções de doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O médico tenderá, desde o princípio, "ver o que ele sabe": fazer a realidade conforme suas concepções mais do que alargar essas suas concepções quando elas não estão de acordo com a experiência percebida.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mas os médicos foram treinados, na Medicina, para crer que a subjetividade é inimiga da ciência - e mesmo da verdade... Dessa maneira, uma forma de raciocínio (analítico-científico) esconde outra (valorativo-conceitual).
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mais ainda, cada médico traz para as suas observações, algo de si mesmo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Em um relato de caso, a pessoa é descrita como parte desse caso.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Eles aprendem uma linguagem especial que de uma vez revela seu conhecimento sobre o novo mundo, mas que, ao mesmo tempo, os encerra em um modo de pensar e no quadro específico desse mundo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
... são realmente essas ciências que atraem a maior atenção, e o pensamento científico é o mais valorizado... A lógica do corpo e do sistema biológico começou a ser a sua lógica.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Aprendendo os fatos dessas ciências e o modo científico de pensamento, o estudante, gradualmente, aprende a pensar biologicamente - a pensar o humano em termos corporais mais do que pessoais.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Uma cultura foi dominante sobre todas as outras - a cultura da Medicina científica... A maneira científica de pensar retirou dos doutores em treinamento, a maneira humanística de pensar a respeito de seus pacientes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
À medida que seu (do médico) conhecimento aumenta, o que ele aprendeu precisa entrar em suas decisões; a profundidade e a riqueza de sua experiência devem temperar suas habilidades tecnológicas.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A maior queixa das pessoas a respeito de seus médicos é de que eles não as ouvem. Ouvir significa não apenas quais os seus sintomas, mas também o que eles significam para os pacientes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O cuidado médico é um processo. Não pode ser visto ou discutido como um único incidente, uma decisão estática feita em um conjunto estático de fatos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mas, para que a informação seja útil, o médico precisa compreender as preocupações do paciente - compreender não apenas qual é a questão, mas o que a questão significa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A palavra "moralidade" tem sido usada como uma ponte entre a ética - "o dever" - e a conduta - "o que é".
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um médico praticando sua profissão no cuidado de um paciente não está agindo em um vácuo cultural.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A ciência não serve os pacientes em um modo desencarnado. Ela o faz através dos médicos - na relação médico-paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mas, cada vez mais, as respostas são para as patologias, e a patologia não é senão uma parte da doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Doutores não tratam doença; tratam pacientes que têm doenças.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A saúde geral da população não é diretamente dependente dos serviços médicos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mais e mais estamos sendo apresentados a patologias não associadas a doenças.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É comum confundirmos a questão que estamos perguntando com o método que usamos para conseguir a resposta.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Assim, Virgílio chamou a Medicina de "arte silenciosa".
Eric Cassell (The Healer's Art)
...(falando da Grécia) Doenças, disseram esses médicos, são coisas naturais provenientes de causas naturais.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Se há uma coisa que a história da ciência deve ter nos ensinado, é de que nossas mais acalentadas verdades científicas, por exemplo, são frágeis face ao tempo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É importante percebermos que o nosso modo de conceber a doença, nossa base científica da Medicina, é parte de nossa herança cultural ocidental e pode não ser a única correta, ou a única resposta para as questões "o que" e "por que" colocadas pelos pacientes?
Eric Cassell (The Healer's Art)
O sucesso da Medicina criou uma tensão: o doutor conhece o seu papel de curador das doenças e "esquece" o seu papel como "cuidador" dos pacientes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Deste ponto de vista, vamos usar a palavra "moléstia" para o que o paciente tem quando vai para o consultório do médico e "doença" para o que ele tem quando volta do consultório do médico para casa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Há uma distinção entre a patologia de um órgão do corpo e a doença do homem como um todo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Ostensivamente, o médico lida apenas com os elementos palpáveis da doença. Sua função manifesta é a cura da doença, mas sua função latente, tratar, que envolve restituir o paciente para o mundo dos saudáveis, é um segredo mesmo para ele.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Vimos que esses elementos da doença podem ser determinados por fatores culturais, físicos e emocionais.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Se eu fosse escolher o aspecto da doença que fosse mais destrutivo para o paciente eu escolheria a perda do controle.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A doença perturba não apenas a homeostase, o balanço vital do paciente, mas o da família ou, por vezes, de determinado grupo mais abrangente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
No paciente, sentimentos tal como o medo influenciam fortemente o seu processo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Na situação aguda o seu corpo disse-lhe algo; mas quando os sintomas (e o medo) se aquietaram, sua negativa poderosa e penetrante da doença cardíaca de novo tomou conta.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O paradoxo aparente - de ver o seu trabalho exclusivamente como cura de doenças não apenas impede os médicos de efetivamente cuidar dos pacientes como também reduz seu impacto na saúde da população - não é de todo um paradoxo, mas resulta da falta de percepção do lugar e função dos conceitos da doença nessas duas áreas pertinentes à Medicina.
Eric Cassell (The Healer's Art)
As pessoas são sadias não porque ficaram doentes e depois se curaram, mas porque, antes de tudo, não ficaram doentes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Quando examinando alguém que está doente, está o médico tão acostumado a procurar a doença causal, que a causa da doença se confunde inevitavelmente com o próprio fenômeno da doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Medicina não é apenas uma técnica, mas uma profissão moral (técnico-moral).
Eric Cassell (The Healer's Art)
A Medicina está sempre solucionando um grupo de problemas apenas para encontrar que outros problemas foram criados ou descobertos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um especialista, principalmente se ele domina uma técnica, pode produzir decisões apenas cientificamente corretas. Um generalista nunca.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Na medida em que o especialista estreita os limites de seu campo ele, de algum modo, torna-se menos um médico e mais um técnico.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
A cura pode ser prejudicada se não houver atenção à biografia do paciente.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Medicina, portanto, é práxis e não teoria. Ela contém seu próprio fim em si mesma. O conhecimento médico é incompleto até ser traduzido em ação.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
A otimização da decisão e da ação em face da incerteza é a característica central das decisões clínicas.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Não podemos prover que Medicina é apenas biologia a não ser que soubéssemos antes o que Medicina é - e essa é a questão.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Portanto, a Arte da Medicina rege e ordena a Arte da Química porque a saúde é o que concerne à Medicina, é a finalidade de todas as medicações preparadas pelo químico.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
O que pensamos que Medicina é determina o que pensamos que os médicos devam ser, o que devem saber e o que lhes deve ser ensinado.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Ética lida com o que deveria ser e não com o que é.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
A ciência pode prover os meios, mas apenas a filosofia pode definir os fins.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Existência é vista como uma experiência e não como uma dada objetividade. O homem não é um objeto do pensamento, mas um sujeito em seu próprio experimentar.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Mais atenção deve ser dada ao crescimento do médico como pessoa. Suas idéias pessoais a respeito da natureza do homem podem, seriamente, ajudar ou impedir o seu contato com a pessoa por trás do complexo de sintomas que ele encontra na sala de consultas.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
É a pessoa que pensa ou sente, não o corpo sozinho ou a alma sozinha. A mais importante implicação dessa unidade metafísica é a noção da pessoa como repositório das funções mais elevadas do ser humano.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Medicina: a mais humana das ciências e a mais científica das humanidades.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
O médico de hoje vive no limiar de uma rebelião metafísica, que, por um lado, exalta o homem e pelo outro o esconde por trás da tecnologia e da organização massificante.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Eu acrescentaria que a profissão não refletida não vale a pena ser praticada. Para ambas, Medicina e sociedade, o diálogo com as humanidades tornar-se-á tão significante quanto o diálogo com a ciência experimental provou ser.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
A Medicina atingiu, em nossos dias, um status "imprecedente" pela infusão que recebe da ciência experimental; a filosofia está atuando em sua ênfase excessiva com modos de pensar analítico e positivo, sem os excessos idealistas do século dezenove.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Uma educação médica humanística encerra dois componentes, um afetivo e outro cognitivo, que devem estar unidos se queremos ter médicos competentes, atenciosos e conhecedores.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Ocorre com a Medicina o mesmo que com todas as técnicas. É uma atividade que tem raízes no esforço espontâneo do ser vivo para dominar o meio e organizá-lo segundo seus valores de ser vivo. É nesse esforço espontâneo que a Medicina encontra seu sentido, mesmo não tendo encontrado, antes, toda a lucidez crítica que a tornaria infalível. Eis porque, sem ser ele própria uma ciência, a Medicina utiliza os resultados de todas as ciências a serviço das normas da vida.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O homem é são, na medida em que é normativo em relação às flutuações de seu meio.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não é absurdo considerar o estado patológico como normal, na medida em que exprime uma relação com a normatividade da vida. Seria absurdo, porém, considerar esse normal idêntico ao normal fisiológico, pois se trata de normas diferentes.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há patologia objetiva. Pode-se descrever objetivamente estruturas ou comportamentos, mas não se pode chamá-los de "patológicos" com base em nenhum critério puramente objetivo. Objetivamente, só se pode definir variedades ou diferenças, sem valor vital positivo ou negativo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Em matéria de patologia, a primeira palavra, historicamente falando, e a última palavra, logicamente falando, cabem à clínica.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Em resumo, quando alguém fala em patologia objetiva, quando alguém acha que a observação anatômica e histológica, que o teste fisiológico, que o exame bacteriológico são métodos que permitem fazer cientificamente o diagnóstico da doença até mesmo - segundo alguns - sem nenhum interrogatório nem exploração clínica, este alguém está sendo vítima, na nossa opinião, da mais grave confusão do ponto de vista filosófico e, às vezes, da mais perigosa, do ponto de vista terapêutico. Um microscópio, um termômetro, um caldo de cultura não podem conhecer uma Medicina que o médico porventura ignore. Fornecem apenas, um resultado. Este resultado não tem, por si, nenhum valor diagnóstico. Para fazer um diagnóstico é preciso observar o comportamento do doente.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
... se considera a doença muito mais como uma reação do todo orgânico à agressão de um elemento, do que como um atributo do próprio elemento.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não queremos dizer que a célula não possa ser doente se, por célula, entendermos um ser vivo unicelular considerado como um todo, como, por exemplo, um protista; mas queremos dizer que a doença de um ser vivo não se situa em determinadas partes do organismo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Procurou-se no tecido ou na célula a solução de um problema levantado pelo organismo inteiro e que se apresenta primeiro para o doente e, em seguida, para o clínico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Em resumo, a distinção entre a fisiologia e a patologia só tem e só pode ter um valor clínico. É por essa razão que achamos, contrariamente a todos os hábitos médicos atuais, que é medicamente incorreto falar em órgãos doentes, tecidos doentes, células doentes.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Antes da ciência, são as técnicas, as artes, as mitologias e as religiões que valorizam espontaneamente a vida humana.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O que distingue um alimento de um excremento de um ser vivo não é uma realidade físico-quimica, e sim um valor biológico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
As leis da física e da química não variam segundo a saúde ou a doença.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O pensamento científico, mesmo em relação a objetos isentos de valores, não deixa de ser um julgamento axilógico, pelo fato de ser um ato psicológico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Qualquer patologia é subjetiva em relação ao futuro.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Quase todas as vezes em que, em matéria de fisiologia humana, dizemos: "Sabemos atualmente que ...", descobriríamos, procurando bem - e sem querer diminuir a parte que cabe à experimentação - que o problema tinha sido colocado, e sua solução muitas vezes esboçada pela clínica e pela terapêutica e, muitas vezes, às custas - biologicamente, é claro - do doente.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O médico tem a tendência a esquecer que são os doentes que chamam o médico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A palavra valere, que deu origem a valor, significa, em latim, passar bem.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Estar em boa saúde é poder cair doente, e se recuperar é um luxo biológico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O ser vivo não vive entre leis, mas entre seres e acontecimentos que diversificam essas leis.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A saúde é uma margem de tolerância às infidelidades do meio. Porém, não será absurdo falar em infidelidade do meio?
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há desordem, há substituição de uma ordem esperada ou apreciada por uma outra ordem que de nada nos serve e que temos de suportar.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há distúrbio patológico em si; o anormal só pode ser apreciado em uma relação.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A doença não é uma variação da dimensão da saúde; ela é uma nova dimensão da vida.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Uma norma de vida é superior a outra quando comporta o que esta última permite e também o que ela não permite.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
As constantes fisiológicas não são constantes no sentido absoluto do tempo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Cada vez mais, a idéia de saúde ou de normalidade deixa de se apresentar como a idéia de conformidade a um ideal externo (atleta para o corpo, bacharel para a inteligência). Essa idéia se situa na relação entre o eu consciente e seus organismos psicofisiológicos, é uma idéia relativista e individualista.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Aquilo que se chama de fisiologia experimental nada mais é, evidentemente, do que uma patologia artificial, que simula e cria doenças.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
As normas funcionais do ser vivo examinado no laboratório só adquirem um sentido dentro das normas operacionais do cientista.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O ser vivo e o meio, considerados separadamente, não são normais, porém é sua relação que os torna normais um para o outro.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A pessoa é doente não apenas em relação aos outros, mas em relação a si mesma.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
No entanto, diversidade não é doença. O anormal não é o patológico. Patológico implica em pathos, sentimento direto e concreto de sofrimento e de impotência, sentimento de vida contrariada. Mas o patológico é realmente o anormal.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
É a vida em si mesma, e não a apreciação médica, que faz do normal biológico um conceito de valor e não um conceito de realidade estatística.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Assinalamos, enfim, uma confusão análoga na Medicina, em que o estado normal designa, ao mesmo tempo, o estado habitual dos órgãos e seu estado ideal, já que o restabelecimento desse estado habitual é o objeto usual da terapêutica.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Logo, compreende-se perfeitamente que os médicos se desinteressem de um conceito ("valor") que lhes parece excessivamente vulgar ou excessivamente metafísico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Doente é um conceito geral de não-valor que compreende todos os valores negativos possíveis.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Mais do que a opinião dos médicos, é a apreciação dos pacientes e das idéias dominantes no meio social que determina o que se chama de "doença".
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
É impossível para o médico compreender a experiência vivida pelo doente a partir do relato dos pacientes. Porque aquilo que exprimem por conceitos usuais não é sua experiência direta, mas sua interpretação de uma experiência para a qual não dispõem de conceitos adequados.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A ambição de tornar a patologia e, conseqüentemente, a terapêutica, integralmente científicas, considerando-as simplesmente procedentes de uma fisiologia previamente instituída, só teria sentido se, em primeiro lugar, fosse possível dar-se uma definição puramente objetiva do normal como de um fato.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Mas ocorre com os estados do organismo o mesmo que com a música: as leis da acústica não são violadas em uma cacofonia, mas não se pode concluir daí que qualquer combinação de sons seja agradável.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Broussais mostra que os fenômenos da doença coincidem essencialmente com os fenômenos da saúde, da qual só diferem pela intensidade.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Comte atribui a Broussais o mérito que, na realidade, cabe a Bichat e, antes dele, Pinel, de ter proclamado que todas as doenças aceitas como tal, são apenas sintomas.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A doença deixa de ser objeto de angústia para o homem são e torna-se objeto de estudo para o teórico da saúde.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A doença não é somente desequilíbrio ou desarmonia; ela é também, e talvez, sobretudo, o esforço que a natureza exerce no homem para obter um novo equilíbrio. A doença é uma reação generalizada com intenção de cura. O organismo fabrica uma doença para se curar a si próprio.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O subjetivo e o objetivo, assim chamados, são inseparáveis quando tentamos responder a questão: "Como vamos avaliar a evidência?"
Lester S.King (Medical Thinking)
E aqueles que não ouvem são empíricos, independente das facilidades técnicas sob seu comando.
Lester S.King (Medical Thinking)
O contrário da Medicina reflexa é a Medicina reflexiva.
Lester S.King (Medical Thinking)
Os maus médicos praticavam o que eu chamo de "medicina reflexa" - um dado sintoma levava automaticamente a um medicamento ou outra resposta comparável a um reflexo patelar.
Lester S.King (Medical Thinking)
Precisamos distinguir claramente entre as ciências médicas e a prática médica.
Lester S.King (Medical Thinking)
A ciência tenta entender a natureza em termos gerais. A Medicina tem como meta o bem-estar do paciente como indivíduo.
Lester S.King (Medical Thinking)
Tendemos a aceitar sem críticas aqueles fatos que não foram questionados e que se harmonizam com nossas crenças.
Lester S.King (Medical Thinking)
Geralmente afirmações passam por fatos se não houver evidência contrária.
Lester S.King (Medical Thinking)
Fatos, como as letras do alfabeto, não têm significado, a não ser que sejam combinados... Mas, em qualquer caso, a combinação ou a reconstrução, têm um largo componente subjetivo.
Lester S.King (Medical Thinking)
Fatos tinham de ser orientados em torno de perguntas específicas e perguntas representam viés.
Lester S.King (Medical Thinking)
Nós focalizamos naqueles fatores que consideramos mais relevantes; os demais, relegamos à periferia.
Lester S.King (Medical Thinking)
Medicina não é, de maneira alguma, uma unidade.
Lester S.King (Medical Thinking)
A história lida com eventos individuais em contraste com a ciência que lida com classes, generalizações e abstrações.
Lester S.King (Medical Thinking)
A revolução científica que teve seu grande ímpeto no século XVII, refreou o interesse científico pelas entidades imateriais e dirigiu a atenção ao que podia ser observado, pesado e medido.
Lester S.King (Medical Thinking)
Por outro lado, podemos seguramente dizer que as relações são tão intrincadas que qualquer tentativa de estabelecer uma marcação precisa é filosoficamente infundada, arbitrária e sempre dependente de um contexto particular; qualquer tentativa de dar uma resposta precisa é de uma falsa simplicidade, intrinsecamente errada e, geralmente, sem utilidade prática.
Lester S.King (Medical Thinking)
Não devemos ser mal conduzidos por classificações artificiais as quais, em vez de nos trazer a compreensão global, possam estrangular o conhecimento.
Lester S.King (Medical Thinking)
A síndrome e a entidade clínica são úteis na identificação de configurações, a entidade nosológica em entendê-las.
Lester S.King (Medical Thinking)
O termo síndrome traz uma tentativa de classificação... e remove o caso do domínio do acaso para o domínio do ordenado.
Lester S.King (Medical Thinking)
O sintoma é o componente de uma configuração chamada doença. A doença é a configuração em si mesma.
Lester S.King (Medical Thinking)
Todavia, a discriminação entre entidades clínica e nosológica é relativamente recente, pois reflete especialmente o enorme acréscimo de conhecimentos a seu respeito, resultante da expansão dos estudos científicos.
Lester S.King (Medical Thinking)
A entidade clínica, uma configuração de sintomas, torna-se uma entidade nosológica quando uma quantidade suficiente de conhecimento é acumulada para explicar a configuração.
Lester S.King (Medical Thinking)
Definir a entidade nosológica é um processo arbitrário dependendo do contexto, interesse e utilização.
Lester S.King (Medical Thinking)
A entidade nosológica é, por outro lado, a entidade clínica com um largo acréscimo de conhecimento a seu respeito.
Lester S.King (Medical Thinking)
Identificar e nomear um processo e ter informações acerca das entidades em questão é bastante diferente.
Lester S.King (Medical Thinking)
Pressões sociais e o desejo de ser conforme um tipo idealizado são fatores mais influentes (para se definir uma doença) do que critérios físicos.
Lester S.King (Medical Thinking)
Os fundamentos para chamar uma condição de doença residem, no final das contas, no valor para a sociedade e não em uma estimativa estatística.
Lester S.King (Medical Thinking)
... chamá-los ou não de doença é um julgamento da sociedade.
Lester S.King (Medical Thinking)
Mesmo que os médicos cientistas estudem os aspectos da doença, seu interesse está mais nas inter-relações entre os fenômenos do que na imediata conexão com o paciente enfermo.
Lester S.King (Medical Thinking)
... pois a doença, em si, é uma perturbação que não contém elementos essencialmente diferentes daqueles da saúde, mas elementos apresentados em uma ordem diferente e menos útil.
Lester S.King (Medical Thinking)
... Como médicos atuantes, se preocupavam com pacientes específicos e seus cuidados. Como cientistas, com generalizações, explanações e teorias.
Lester S.King (Medical Thinking)
Doença consiste em desabilitação julgada pelo que era considerado normal.
Lester S.King (Medical Thinking)
As classificações foram feitas para serem usadas. Se houver um conflito entre uso e lógica, então a lógica vai para o espaço.
Lester S.King (Medical Thinking)
Infelizmente, hoje estamos obcecados com a noção de causa e não nos incomodamos em classificar a confusão inerente a esse termo.
Lester S.King (Medical Thinking)
Para o clínico, "uso" refere-se ao valor em promover a cura. Na pesquisa, todavia, "uso" pode referir-se ao valor de promover o entendimento.
Lester S.King (Medical Thinking)
A dificuldade não está em ver ou ouvir, mas em entender, ou seja, em tirar conclusões no que é visto ou ouvido.
Lester S.King (Medical Thinking)
Um sintoma - um fenômeno relevante para a saúde - torna-se um sinal quando aplicamos a ele raciocínio e julgamento e chegamos a uma conclusão não presente na percepção original.
Lester S.King (Medical Thinking)
Um sinal, essencialmente, é a conclusão que a mente deriva de sintomas aparentes aos sentidos enquanto um sintoma é apenas uma questão de percepção dos sentidos.
Lester S.King (Medical Thinking)
Os sinais são transmudados em conhecimento não por percepção sensória direta, mas por um processo de raciocínio.
Lester S.King (Medical Thinking)
Se os antigos procedimentos e asserções (ora) nos parecem absurdos, não devemos concluir que eles eram absurdos.
Lester S.King (Medical Thinking)
A história (da Medicina) pode dar ao médico uma nova percepção das forças dinâmicas que atuam na Medicina, a interação das pressões sociais e econômicas, da ambição do orgulho e da complacência, das limitações culturais e técnicas.
Lester S.King (Medical Thinking)
Se nós substituíssemos a palavra "uso" pela palavra "valor", e perguntássemos então "Qual é o valor da história da Medicina?" nós teríamos uma maior área de movimento. Deixaria de haver uma questão prática e estaríamos entrando em outra dimensão.
Lester S.King (Medical Thinking)
Apenas quando "self" e corpo podem explorar adequadamente poços das experiências profundas para conhecer e enfrentar um desafio, podemos falar de real identidade.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
Valores estão em risco quando uma pessoa torna-se um paciente e, portanto, o auto-conceito está também em risco.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
... alguns aspectos desse corpo, na experiência individual, têm mais importância que outros.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
O paradoxo de haver um problema que é diferente para médico e paciente cria não apenas a dificuldade de se reconciliar os interesses de paciente e médico, mas também uma perplexidade filosófica no que concerne a qual o tipo de problema que fornece a racionalidade para a transação médico-paciente e que, mais genericamente, define a meta da Medicina.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
Na ausência da incerteza, um problema torna-se apenas uma tarefa, ou seja, algo a fazer e não algo a ser questionado.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
O clínico de hoje tem de reconhecer que a atual taxionomia das doenças é arbitrária, imperfeita e mutável e, ao mesmo tempo, entender que não podemos passar sem ela.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
... pois todas as perguntas que temos de responder são questões de fins e de meios.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
A conceituação das metas da Medicina pode, é fato, estar enraizada na ciência e ter algum conteúdo científico, mas também tem de ter um conceito de valor ou algum outro conceito.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
A moralidade externa remete ao preceito de honestidade, enquanto que a moralidade interna focaliza o que é melhor para a recuperação do paciente.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
Uma vez que há um considerável desequilíbrio de poder em favor do médico, mesmo na mais apropriada relação terapêutica, o paciente se encontra duplamente em risco nas mãos de um médico imoral.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
O macro-cosmo da área da saúde é feito de micro-cosmos das relações terapêuticas.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
A conduta moral, ..., não é um adjunto à boa Medicina, mas intrínseca a ela.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
As situações dramáticas de vida ou morte... são difíceis, mas são ocorrências relativamente raras para o médico comum.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
É um fato simples, mas quase universalmente ignorado no pensamento moderno que, quando alguém perde a visão da finalidade de seu pensamento e de sua ação, esse pensamento e essa ação passam a oscilar entre o fanatismo e a futilidade.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Medicina, então, é todas as três - ciência, arte e virtude sinérgica, integralmente unidas nas atividades diárias do médico. Desarticular um dos membros dessa tríade dos outros é desmembrar a Medicina - cuja característica essencial é a relação especial que une ao outro. Quando isso acontece, aí pode existir um cientista, um artista ou um prático, mas não um médico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Medicina existe como Medicina apenas quando se ocupa integralmente das atividades que constituem o julgamento clínico e que leva à ação decisiva no interesse de um paciente particular.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A ação decisiva freqüentemente envolve contraposições do que é bom cientificamente, o que o médico acha que é bom e o que o paciente aceita como bom.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A ação correta - a melhor para um determinado paciente - nem sempre é sinônimo da ação deduzida logicamente ou cientificamente.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Quanto mais perto chegamos ao fim do processo do julgamento clínico - a ação correta - menos útil e menos aproveitável é o modelo científico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A decisão clínica pode se tornar logicamente mais rigorosa sem que tudo seja reduzido a algoritmos ou equações regressivas.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
O enigma continua hoje na crescente tensão entre os modelos científico-atuarial e artístico-institucional do julgamento clínico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
O médico precisa aprender a separar a observação de sua interpretação.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Não apenas os sintomas, mas também a totalidade dos significados e a ação que segue esses significados são a doença.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
Um segundo plano da subjetividade é a atribuição de valor à experiência.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
As diferenças idiossincrásicas apresentadas por diferentes pacientes são vistas, por alguns médicos, como obstruções ao processo diagnóstico em vez de uma parte inerente do diagnóstico.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
Assim como o inconsciente fala, a ele pode-se falar.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
É justo se dizer que uma das maiores contribuições de Freud para a prática médica foi recolocar a pessoa como sujeito na Medicina.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
As deficiências da prática médica em relação à esfera subjetiva são ressaltadas pelo aumento dos prontuários médicos orientados por problemas como uma ferramenta de educação médica.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
... o médico pode e deve considerá-la (a realidade do enfermo) a partir de dois pontos de vistas complementares: que o faz vê-la como "organismo pessoal" e o que conduz a poder entendê-la como "pessoa orgânica".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
É preciso, por conseguinte, se discernir com cuidado os diversos modos típicos de diagnosticar. Eu distinguirei dois: um ao qual darei o nome de "diagnóstico integral", no qual são observados todos os requisitos exigidos pela condição pessoal do enfermo, e três formas deficientes de juízo diagnóstico, respectivamente derivadas das deficiências na concepção e no proceder clínico a que chamarei de "forçada", "pragmática" e "doutrinária".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Em três ou cinco minutos pode se iniciar uma amizade médica, mas não se constituir.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... não se pode evitar que, pelo menos durante algum tempo, apareça inconvenientemente em primeiro plano uma relação pessoal com o médico, e parece mesmo, que tal influência do médico seja condição indispensável para a resolução do problema.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
"Ciência das coisas pertinentes ao amor ao corpo", chamou Platão a Medicina.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
A habitual e esquemática divisão da prática médica em atos diagnósticos e atos terapêuticos não se ajusta ao que, em sua verdadeira realidade, é a assistência ao enfermo. Há, sim, atos médicos preponderantemente diagnósticos e atos médicos preponderantemente terapêuticos; porém nunca o todo de uma relação médica deixa de atualizar-se em cada um dos lapsos temporais em que, de fato, se realizam.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... Neste sentido não são verdadeiros atos médicos - são apenas práticas auxiliares dos mesmos - a obtenção de uma radiografia, a prática de uma biópsia ou a retirada de sangue para uma análise imunológica ou bioquímica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
O enfermo, a enfermidade e o médico compõem o exercício da Medicina, rezava uma sentença hipocrática.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
O eu do qual o médico pratica sua profissão é um ego adiuvans; e se sua vocação e sua vontade de ajudar o enfermo são profundas e conseqüentes, não o tratará, por fim, como um objeto mais ou menos valioso, mesmo quando em sua relação com ele se veja obrigado a objetivá-lo, senão como uma "pessoa doente e necessitada".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... o modo ideal da relação médica - a que se estabelece entre um médico com tal vocação e tempo suficiente, e um enfermo com autêntica vontade de cura, sem uma mentalidade mágica ou supersticiosa especialmente expressa e com alguma confiança na capacidade técnica e na pessoa de quem lhe atende - está muito longe de ocorrer em todos os casos.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Uma intervenção cirúrgica é, antes de tudo, uma relação objetivante: nada mais óbvio; mas também, por mais tênue e subtilmente que se queira, a manifestação visível de uma relação inter-humana co-executiva e interpessoal.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... porque a esfera do "para mim-próprio" está integrada por outras duas, fenomenologicamente e psicologicamente demarcadas entre si: a esfera do "em-mim"e a esfera do "o meu".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
"O médico deve ter em conta em seus tratamentos considerações de ordem familiar e moral que nada têm a ver com a ciência", disse por todos Claude Bernard.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Em suma, a relação médica é uma cooperação quase-diádica de ajuda, endereçada à reconquista por parte do enfermo do hábito psico-orgânico a que damos o nome de saúde.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Assim, a amizade peculiar entre médico e paciente - a "amizade médica" de que falaremos adiante - se encontra, todavia, mais afastada da pura amizade interpessoal do que a amizade pedagógica; ... está muito próxima ao amor distante da objetivação benevolente que antes descrevi.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Pode ser satisfatória uma Medicina que pragmaticamente desconhece a índole pessoal da realidade sobre a qual atua?
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Três planos devem ser metodicamente discernidos, de acordo com o que dissemos, na unitária realidade da relação médica: esta é, com efeito, relação inter-humana, relação de ajuda e relação técnica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Que um homem preste ajuda em mister de outro; tal é o fundamento genérico da relação médica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
É certo que a mentalidade técnica imaginou ou sonhou a utopia de um diagnóstico baseado em dados puramente objetivos (cifras analíticas, traçados gráficos) e um tratamento limitado a execução de prescrições escritas e automaticamente derivados daquele diagnóstico; em suma, a existência futura de uma Medicina sem médico.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Muito do seu sucesso como "curador" foi devido a aspectos de sua personalidade e comportamento que eram independentes do seu conhecimento científico da Medicina.
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
Em diversas ocasiões, ele expressou seu ponto de vista de que as curas das doenças orgânicas que ele trouxe eram devidas essencialmente, não ao tratamento que ele usou, mas à fé do paciente na efetividade do tratamento e ao conforto fornecido por um bom cuidado de enfermagem.
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
Ao invés de ser simplesmente homeostática, a resposta do organismo corresponde mais a uma adaptação criativa que é conseguida através de uma alteração permanente no corpo ou na mente.
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
Os médicos antigos eram tão familiares com esse poder natural do organismo para controlar doenças que cunharam para ele a bela expressão vis medicatrix naturae, "o poder curativo da natureza".
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
... eles devem ter a vontade de viver que mobiliza os mecanismos naturais do corpo responsáveis pela resistência às doenças.
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
O tema básico deste livro é que cada pessoa deve aceitar um certo grau de responsabilidade pela recuperação de sua doença.
Norman Cousins (Anatomia de uma Doença)
A vida é breve, a Arte é longa; a ocasião fugaz; a experiência falaciosa e o julgamento difícil.
Hipócrates (Aforismos)
Medicina, dentre todas as Artes, é a mais nobre; mas devido à ignorância de seus praticantes, e daqueles que, impensadamente, formam um julgamento a respeito deles, ela está, no presente, muito atrás de todas as outras artes.
Hipócrates (A Lei)
Eu juro por Apolo, o médico, e Esculápio, e Higéia, e Panacéia, e todos os deuses e deusas que, de acordo com minha habilidade e julgamento, eu guardarei esse juramento e suas estipulações - considerar aqueles que me ensinaram essa Arte igualmente caros a mim como meus pais, a dividir minha "substância" com ele, e aliviar suas necessidades caso necessário; cuidar de seus filhos da mesma maneira que os meus próprios irmãos ensiná-los essa arte, caso queiram aprendê-la, sem que nada lhes seja cobrado; e que por preleção, leitura e qualquer outro modo de instrução eu possa repartir um conhecimento da Arte a meus próprios filhos, aos filhos de meus mestres e a discípulos mediante um estipêndio e um juramento de acordo com as leis da Medicina, mas a nenhum outro mais. Eu me comprometo a aplicar o regime que, de acordo habilidade e julgamento eu considerar benéfico para meus pacientes e a me abster de tudo o que seja deletério ou nocivo. Não darei a ninguém um remédio mortal e, caso perguntado, não darei tal conselho; e, da mesma maneira, não darei a qualquer mulher uma medicação que induza o aborto. Com pureza e integridade passarei minha vida e praticarei minha Arte. Não cortarei pessoas usando a "stone", mas deixarei que isso seja feito por homens praticantes dessa especialidade. Em quaisquer casas que eu entrar, o farei para benefício dos doentes e me farei abster de qualquer ato voluntário de intriga ou corrupção; e, além do mais, da sedução de mulheres e homens, livres ou escravos. Tudo o que, no exercício de minha prática profissional ou não, eu venha ver ou ouvir a respeito da vida dos homens e que não deva ser falado ou revelado, eu não divulgarei, considerando que tudo isso deve ser mantido em segredo. Enquanto eu continuar a manter inviolado esse Juramento, seja-me permitido gozar a vida e praticar a arte e ser respeitado por todos os homens em todos os tempos. Mas no caso de eu transgredir ou violar esse Juramento possa o contrário me acontecer.
Hipócrates (Juramento)
Todos devemos nos examinar diariamente em busca daquelas atitudes que lentamente, insidiosamente e de maneira indolor corroem o intelecto: a obscuridade de expressão, a asserção gratuita, a exaltação da intuição sobre a razão, o medo à ambigüidade, a resposta dolorosa à uma nova idéia, e a desconfiança sobre as coisas acadêmicas.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Eles (os estudantes) precisam compreender a gênese de seus próprios sistemas de valores.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Ensinamos nós, aos alunos, as questões fundamentais das quais cada paciente gostaria de ter as respostas?
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
... a desumanização do aluno e a despersonalização do paciente.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
A arte médica corre perigo de ser engolfada pelo seu aparato tecnológico.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
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