Medicina, porque liga o estudo científico do homem e valores humano profundamente enraizados, oferece um campo para a resolução entre abstrato e concreto, ciência e humanidades, a procura do conhecimento e a procura do bem-estar.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Quando Medicina e filosofia convergem, podem fazer progredir a busca do homem em direção a uma imagem unificada dele mesmo e do mundo; quando divergem, essa imagem fica fragmentada, confusa e mesmo absurda.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Medicina e filosofia se enroscam como os filamentos de uma complexa - do intelecto. Elas estão intermitentemente mergulhadas em conjunto pela sua imersão na existência humana, e separadas por suas preocupações freqüentemente opostas em relação a essa existência. Tensões características surgem de suas pretensões em relação à universalidade - Medicina divinizando o corpo e o particular, filosofia o intelecto e ao abstrato.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
As capacidades da Medicina moderna são tão impressionantes e penetrantes que todos nós somos afetados pela maneira que nós construímos a Medicina e justificamos suas finalidades e seus propósitos.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
A filosofia da Medicina que procuramos é uma filosofia de uma atividade humana identificável, não uma miscelânea das ciências e artes empregadas pela Medicina. Nós afirmamos que a Medicina não é redutível à biologia, à física, à química, ou à psicologia; nem é apenas o que os médicos fazem ou esperam; nem é simplesmente uma ciência rigorosa ou apenas uma arte de fazer o bem em eventos clínicos. Ao invés, mostramos que Medicina é uma forma única de relacionamento.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Holman sugeriu que "alguns resultados médicos são inadequados não por falta de intervenções técnicas apropriadas, mas porque nosso pensamento conceptual é inadequado".
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
A Medicina sofre de uma abundância de meios e de uma pobreza de finalidades.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
A ciência não é um valor absoluto a que todos os outros estejam subordinados; ela tropeça quando vai de encontro às normas que consagram e protegem a dignidade humana.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
O direito é coercitivo e atinge a vida social, enquanto a moral vive na subjetividade e atua na vida interior.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Mesmo assim, em qualquer hipótese, o direito médico sempre estará subordinado à moral médica.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
As pesadas obrigações jurídicas que surgem da evolução contemporânea são a inevitável contrapartida das enormes possibilidades da Medicina moderna.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
De um lado, a Medicina com sua moral autônoma e imposta pela circunstância e, de outro, o legislador e o magistrado como guardiões da ordem pública.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A Medicina que era um "diálogo entre a consciência e a ciência", uma arte solitária, pessoal e íntima, tem nos tempos atuais, entre o médico e o paciente, um terceiro elemento que é, incontestavelmente, a sociedade, como sujeito de direito.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
No entanto, por um processo curioso e paradoxal, é neste instante de maior progresso e de resultados fantásticos, que a Medicina se apresenta em estado de sobressalto, pois sua ética não acompanhou o mesmo ritmo de suas incontestáveis conquistas.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Enquanto o médico se atém aos doentes e às doenças, o filósofo da Medicina converte em problemas essa realidade. E quando o médico, ao encontrar solução para cada caso, dá-se por satisfeito, começa então a Medicina Legal a formular inúmeras interrogações, num sentido eminentemente transcendental.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
A penicilina cura os homens, mas o vinho é que os faz felizes.
Alexander Fleming (descobridor da Penicilina)
Já sabia que a verdade de hoje pode ser o erro de amanhã... Que toda a Arte Médica estando em constante reformulação e reforma, tudo que é atual e moderno é duvidoso e esconde uma mentira ou um engano que os tempos vão tornar aparentes.
Pedro Nava (1903-1984) (Galo das Trevas)
Penso que a medicina não acaba no hospital, como se pensa freqüentemente, mas lá só faz começar.
Claude Berbard (1813-1878) (Introdução ao Estudo da Medicina Experimental)
Nem sempre o conhecimento médico coincide com a moral jurídica.
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)
Uma filosofia da Medicina é necessária: para organizar seus crescentes sucessos; para formar um princípio que integre suas divididas especialidades; para oferecer uma explicação racional e científica de seus métodos; e para descobrir a relação entre os sistemas médicos do Oriente e do Ocidente de modo que cada um possa funcionar em uma comunidade mundial em expansão.
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)
Logicamente, se precisamos resolver um problema de ética médica, alguma coisa que se pareça com uma teoria ética é requerida.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
... Por esta razão é importante se distinguir entre ética médica e a ética do médico... A ética do médico é muito mais um conjunto específico de ética aplicada.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
O foco tem sido em temas éticos específicos - aborto, eutanásia, transplantes, confidencialidade, controle do comportamento - ou, mais recentemente, questões de saúde pública como alocação de recursos, compromissos com liberdade em nome de eficiência ou justiça, e a ética sobre a experimentação em humanos. O que ainda está faltando é uma discussão da ética.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Quando desafiados a justificar a ética de suas ações, médicos e outros profissionais de saúde invariavelmente apelam para um dos princípios éticos sucintos elaborados para definir a ética profissional.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
Os fundamentos da ética médica pareciam, deveriam ser mais profundos que o mero consenso entre os membros de uma organização profissional em um tempo e lugar particular.
Robert Veatch (A Theory of Medical Ethics)
A medicalização da sociedade pôs fim à era da morte natural. O homem ocidental perdeu o direito de presidir o ato de morrer.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A grande maioria dos diagnósticos e intervenções terapêuticas estatisticamente mais úteis do que prejudiciais aos pacientes tem duas características comuns: é pouco dispendiosa e pode ser aplicada facilmente de forma autônoma no seio da célula familiar.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Sob a pressão dessa nova sensibilidade para com a dor, a política tende a ser concebida menos como empresa destinada a maximizar a felicidade do que a minimizar o sofrimento.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A luta contra a dor começa somente quando Descartes separa o corpo da alma.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Finalmente, a dor era concebida como experiência da alma, mas de uma alma que estava presente no corpo inteiro.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O significado da dor era cósmico e mítico, e não individual e técnico.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Atualmente a dor foi transformada em um problema de economia política.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Ao colonizar uma cultura tradicional, a civilização moderna transforma a experiência da dor. Retira do sofrimento seu significado íntimo e pessoal e transforma a dor em problema técnico.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
É o ritual médico e seu mito correspondente que transformam a dor, a enfermidade e a morte, experiências essenciais a que cada um deve se acomodar, em uma seqüência de obstáculos que ameaçam o bem-estar e que obrigam cada um a recorrer sem cessar a consumos cuja produção é monopolizada pela instituição médica.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A saúde é a sobrevivência num bem-estar que sabemos ser relativo e efêmero.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
O nível de iatrogênese permanece fundamentalmente o mesmo se os próprios doutores estabelecem o montante de seus honorários, se ele é fixado a nível coletivo ou se todos os médicos são transformados em funcionários.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A Medicina não tem somente funções técnicas: ela constitui-se, entre outros, num sinal de status. Um dos principais objetivos das despesas médicas é produzir satisfações simbólicas que as pessoas apreciam pelo seu preço.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Os partidos políticos traduzem o desejo da população de estar com boa saúde em termos de organização dos serviços médicos.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A política da saúde, como é quase sempre entendida, coloca sistematicamente a melhoria dos cuidados médicos antes dos fatores que permitiriam exercitar e melhorar a capacidade individual de cada um em assumi-la.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A definição da anormalidade muda de uma cultura para outra. Cada civilização cria suas próprias doenças... A atitude diante da anormalidade também varia de uma cultura para a outra. O mesmo sintoma pode excluir da sociedade um homem, seja executando-o, exilando-o, abandonando-o, encarcerando-o, hospitalizando-o, ou seja, mesmo cercando-o de respeito, donativos e subvenções.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
É o volume global dos transportes que entrava a circulação; é o volume global do ensino que impede as crianças de expandirem a sua curiosidade, sua coragem intelectual e sua sensibilidade; é o volume sufocante das informações que ocasiona a confusão e a superficialidade, e é o volume global da medicalização que reduz o nível de saúde.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
Quanto mais um país é pobre, mais o preço dos equipamentos ali é elevado.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
A medicalização da vida é malsã por três motivos: o primeiro, a intervenção técnica no organismo, acima de determinado nível, retira do paciente características comumente designadas pela palavra saúde.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
As doenças mais desabilitadoras de nosso tempo - doenças cardíacas, alguns tumores, acidentes automobilísticos - são, elas mesmas, nascidas de nossa cultura.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A palavra "artrite" pode ser mais desabilitadora do que o estado do corpo que ela representa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A função de tratar pode ser claramente distinguida da função de curar; e mesmo tendo poucas alternativas técnicas, as possíveis diferenças entre metas e atitudes são enormes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um fato essencial em Medicina é que as decisões devem ser feitas se não por outra razão, a de que nenhuma decisão é, em si, uma decisão.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Outro aspecto importante dos fenômenos de transferência parece ser que, quanto mais doente estiver a pessoa, maior o acesso do médico ao centro da interface corpo-mente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O ponto que fica, todavia, é que o conhecimento médico move o universo da doença do desconhecido em direção ao mundo racional.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Muito pouco se faz para ensinar a extraordinária habilidade que as pessoas têm para se fazerem melhorar ou os meios pelos quais eles tornam-se parceiros na medicação ou uma outra modalidade terapêutica.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Porém a realidade que conta é a realidade cultural, e o sistema usado pelo curador ou pelo doutor deve ser acurado apenas nos termos da cultura na qual está sendo usado, pois serve para explicar a doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Não é suficiente ou mesmo justo forçar os médicos a se confrontarem com a necessidade de aceitar a responsabilidade de tomarem decisões morais sem lhes oferecer treinamento que possam lhes dar suporte nessa tarefa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O subjetivo não é menos real ou menos importante em Medicina, mas simplesmente um diferente tipo de realidade.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Eu adquiro o senso de responsabilidade de ser parte da anatomia de uma pessoa, assim como a vesícula é parte da anatomia de um corpo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É importante se fazer uma distinção entre as particularidades de uma personalidade e a psicologia de uma pessoa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Uma vez que o médico lida diretamente com o bem estar dos indivíduos, deve, a Medicina, ser reconhecida como uma profissão moral cujas ferramentas são, em parte, técnicas.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A decisão médica afeta, não apenas o corpo, mas também a vida e o bem-estar do paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O médico tenderá, desde o princípio, "ver o que ele sabe": fazer a realidade conforme suas concepções mais do que alargar essas suas concepções quando elas não estão de acordo com a experiência percebida.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Uma cultura foi dominante sobre todas as outras - a cultura da Medicina científica... A maneira científica de pensar retirou dos doutores em treinamento, a maneira humanística de pensar a respeito de seus pacientes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O cuidado médico é um processo. Não pode ser visto ou discutido como um único incidente, uma decisão estática feita em um conjunto estático de fatos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um médico praticando sua profissão no cuidado de um paciente não está agindo em um vácuo cultural.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A ciência não serve os pacientes em um modo desencarnado. Ela o faz através dos médicos - na relação médico-paciente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mas, cada vez mais, as respostas são para as patologias, e a patologia não é senão uma parte da doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A saúde geral da população não é diretamente dependente dos serviços médicos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mais e mais estamos sendo apresentados a patologias não associadas a doenças.
Eric Cassell (The Healer's Art)
...(falando da Grécia) Doenças, disseram esses médicos, são coisas naturais provenientes de causas naturais.
Eric Cassell (The Healer's Art)
É importante percebermos que o nosso modo de conceber a doença, nossa base científica da Medicina, é parte de nossa herança cultural ocidental e pode não ser a única correta, ou a única resposta para as questões "o que" e "por que" colocadas pelos pacientes?
Eric Cassell (The Healer's Art)
O sucesso da Medicina criou uma tensão: o doutor conhece o seu papel de curador das doenças e "esquece" o seu papel como "cuidador" dos pacientes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Deste ponto de vista, vamos usar a palavra "moléstia" para o que o paciente tem quando vai para o consultório do médico e "doença" para o que ele tem quando volta do consultório do médico para casa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Vimos que esses elementos da doença podem ser determinados por fatores culturais, físicos e emocionais.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Se eu fosse escolher o aspecto da doença que fosse mais destrutivo para o paciente eu escolheria a perda do controle.
Eric Cassell (The Healer's Art)
A doença perturba não apenas a homeostase, o balanço vital do paciente, mas o da família ou, por vezes, de determinado grupo mais abrangente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
No paciente, sentimentos tal como o medo influenciam fortemente o seu processo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O paradoxo aparente - de ver o seu trabalho exclusivamente como cura de doenças não apenas impede os médicos de efetivamente cuidar dos pacientes como também reduz seu impacto na saúde da população - não é de todo um paradoxo, mas resulta da falta de percepção do lugar e função dos conceitos da doença nessas duas áreas pertinentes à Medicina.
Eric Cassell (The Healer's Art)
As pessoas são sadias não porque ficaram doentes e depois se curaram, mas porque, antes de tudo, não ficaram doentes.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Quando examinando alguém que está doente, está o médico tão acostumado a procurar a doença causal, que a causa da doença se confunde inevitavelmente com o próprio fenômeno da doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Medicina não é apenas uma técnica, mas uma profissão moral (técnico-moral).
Eric Cassell (The Healer's Art)
A Medicina está sempre solucionando um grupo de problemas apenas para encontrar que outros problemas foram criados ou descobertos.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Um especialista, principalmente se ele domina uma técnica, pode produzir decisões apenas cientificamente corretas. Um generalista nunca.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Na medida em que o especialista estreita os limites de seu campo ele, de algum modo, torna-se menos um médico e mais um técnico.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Medicina, portanto, é práxis e não teoria. Ela contém seu próprio fim em si mesma. O conhecimento médico é incompleto até ser traduzido em ação.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
A otimização da decisão e da ação em face da incerteza é a característica central das decisões clínicas.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
Não podemos prover que Medicina é apenas biologia a não ser que soubéssemos antes o que Medicina é - e essa é a questão.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
O que pensamos que Medicina é determina o que pensamos que os médicos devam ser, o que devem saber e o que lhes deve ser ensinado.
Edmund Pellegrino (The Healing Relationship)
É a pessoa que pensa ou sente, não o corpo sozinho ou a alma sozinha. A mais importante implicação dessa unidade metafísica é a noção da pessoa como repositório das funções mais elevadas do ser humano.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Medicina: a mais humana das ciências e a mais científica das humanidades.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
O médico de hoje vive no limiar de uma rebelião metafísica, que, por um lado, exalta o homem e pelo outro o esconde por trás da tecnologia e da organização massificante.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Eu acrescentaria que a profissão não refletida não vale a pena ser praticada. Para ambas, Medicina e sociedade, o diálogo com as humanidades tornar-se-á tão significante quanto o diálogo com a ciência experimental provou ser.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
A Medicina atingiu, em nossos dias, um status "imprecedente" pela infusão que recebe da ciência experimental; a filosofia está atuando em sua ênfase excessiva com modos de pensar analítico e positivo, sem os excessos idealistas do século dezenove.
Edmund Pellegrino (Humanism and the Physician)
Ocorre com a Medicina o mesmo que com todas as técnicas. É uma atividade que tem raízes no esforço espontâneo do ser vivo para dominar o meio e organizá-lo segundo seus valores de ser vivo. É nesse esforço espontâneo que a Medicina encontra seu sentido, mesmo não tendo encontrado, antes, toda a lucidez crítica que a tornaria infalível. Eis porque, sem ser ele própria uma ciência, a Medicina utiliza os resultados de todas as ciências a serviço das normas da vida.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O homem é são, na medida em que é normativo em relação às flutuações de seu meio.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não é absurdo considerar o estado patológico como normal, na medida em que exprime uma relação com a normatividade da vida. Seria absurdo, porém, considerar esse normal idêntico ao normal fisiológico, pois se trata de normas diferentes.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há patologia objetiva. Pode-se descrever objetivamente estruturas ou comportamentos, mas não se pode chamá-los de "patológicos" com base em nenhum critério puramente objetivo. Objetivamente, só se pode definir variedades ou diferenças, sem valor vital positivo ou negativo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Em matéria de patologia, a primeira palavra, historicamente falando, e a última palavra, logicamente falando, cabem à clínica.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
... se considera a doença muito mais como uma reação do todo orgânico à agressão de um elemento, do que como um atributo do próprio elemento.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não queremos dizer que a célula não possa ser doente se, por célula, entendermos um ser vivo unicelular considerado como um todo, como, por exemplo, um protista; mas queremos dizer que a doença de um ser vivo não se situa em determinadas partes do organismo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Procurou-se no tecido ou na célula a solução de um problema levantado pelo organismo inteiro e que se apresenta primeiro para o doente e, em seguida, para o clínico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Qualquer patologia é subjetiva em relação ao futuro.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Estar em boa saúde é poder cair doente, e se recuperar é um luxo biológico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A saúde é uma margem de tolerância às infidelidades do meio. Porém, não será absurdo falar em infidelidade do meio?
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há desordem, há substituição de uma ordem esperada ou apreciada por uma outra ordem que de nada nos serve e que temos de suportar.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Não há distúrbio patológico em si; o anormal só pode ser apreciado em uma relação.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
As constantes fisiológicas não são constantes no sentido absoluto do tempo.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Cada vez mais, a idéia de saúde ou de normalidade deixa de se apresentar como a idéia de conformidade a um ideal externo (atleta para o corpo, bacharel para a inteligência). Essa idéia se situa na relação entre o eu consciente e seus organismos psicofisiológicos, é uma idéia relativista e individualista.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Aquilo que se chama de fisiologia experimental nada mais é, evidentemente, do que uma patologia artificial, que simula e cria doenças.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
As normas funcionais do ser vivo examinado no laboratório só adquirem um sentido dentro das normas operacionais do cientista.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O ser vivo e o meio, considerados separadamente, não são normais, porém é sua relação que os torna normais um para o outro.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A pessoa é doente não apenas em relação aos outros, mas em relação a si mesma.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
No entanto, diversidade não é doença. O anormal não é o patológico. Patológico implica em pathos, sentimento direto e concreto de sofrimento e de impotência, sentimento de vida contrariada. Mas o patológico é realmente o anormal.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
É a vida em si mesma, e não a apreciação médica, que faz do normal biológico um conceito de valor e não um conceito de realidade estatística.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Assinalamos, enfim, uma confusão análoga na Medicina, em que o estado normal designa, ao mesmo tempo, o estado habitual dos órgãos e seu estado ideal, já que o restabelecimento desse estado habitual é o objeto usual da terapêutica.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Logo, compreende-se perfeitamente que os médicos se desinteressem de um conceito ("valor") que lhes parece excessivamente vulgar ou excessivamente metafísico.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Doente é um conceito geral de não-valor que compreende todos os valores negativos possíveis.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Mais do que a opinião dos médicos, é a apreciação dos pacientes e das idéias dominantes no meio social que determina o que se chama de "doença".
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A ambição de tornar a patologia e, conseqüentemente, a terapêutica, integralmente científicas, considerando-as simplesmente procedentes de uma fisiologia previamente instituída, só teria sentido se, em primeiro lugar, fosse possível dar-se uma definição puramente objetiva do normal como de um fato.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Mas ocorre com os estados do organismo o mesmo que com a música: as leis da acústica não são violadas em uma cacofonia, mas não se pode concluir daí que qualquer combinação de sons seja agradável.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
Broussais mostra que os fenômenos da doença coincidem essencialmente com os fenômenos da saúde, da qual só diferem pela intensidade.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
A doença deixa de ser objeto de angústia para o homem são e torna-se objeto de estudo para o teórico da saúde.
Georges Canguilhem (O Normal e o Patológico)
O subjetivo e o objetivo, assim chamados, são inseparáveis quando tentamos responder a questão: "Como vamos avaliar a evidência?"
Lester S.King (Medical Thinking)
O contrário da Medicina reflexa é a Medicina reflexiva.
Lester S.King (Medical Thinking)
A ciência tenta entender a natureza em termos gerais. A Medicina tem como meta o bem-estar do paciente como indivíduo.
Lester S.King (Medical Thinking)
Fatos tinham de ser orientados em torno de perguntas específicas e perguntas representam viés.
Lester S.King (Medical Thinking)
Nós focalizamos naqueles fatores que consideramos mais relevantes; os demais, relegamos à periferia.
Lester S.King (Medical Thinking)
Medicina não é, de maneira alguma, uma unidade.
Lester S.King (Medical Thinking)
A história lida com eventos individuais em contraste com a ciência que lida com classes, generalizações e abstrações.
Lester S.King (Medical Thinking)
Por outro lado, podemos seguramente dizer que as relações são tão intrincadas que qualquer tentativa de estabelecer uma marcação precisa é filosoficamente infundada, arbitrária e sempre dependente de um contexto particular; qualquer tentativa de dar uma resposta precisa é de uma falsa simplicidade, intrinsecamente errada e, geralmente, sem utilidade prática.
Lester S.King (Medical Thinking)
Não devemos ser mal conduzidos por classificações artificiais as quais, em vez de nos trazer a compreensão global, possam estrangular o conhecimento.
Lester S.King (Medical Thinking)
A síndrome e a entidade clínica são úteis na identificação de configurações, a entidade nosológica em entendê-las.
Lester S.King (Medical Thinking)
O termo síndrome traz uma tentativa de classificação... e remove o caso do domínio do acaso para o domínio do ordenado.
Lester S.King (Medical Thinking)
O sintoma é o componente de uma configuração chamada doença. A doença é a configuração em si mesma.
Lester S.King (Medical Thinking)
Todavia, a discriminação entre entidades clínica e nosológica é relativamente recente, pois reflete especialmente o enorme acréscimo de conhecimentos a seu respeito, resultante da expansão dos estudos científicos.
Lester S.King (Medical Thinking)
A entidade clínica, uma configuração de sintomas, torna-se uma entidade nosológica quando uma quantidade suficiente de conhecimento é acumulada para explicar a configuração.
Lester S.King (Medical Thinking)
Definir a entidade nosológica é um processo arbitrário dependendo do contexto, interesse e utilização.
Lester S.King (Medical Thinking)
A entidade nosológica é, por outro lado, a entidade clínica com um largo acréscimo de conhecimento a seu respeito.
Lester S.King (Medical Thinking)
Identificar e nomear um processo e ter informações acerca das entidades em questão é bastante diferente.
Lester S.King (Medical Thinking)
Pressões sociais e o desejo de ser conforme um tipo idealizado são fatores mais influentes (para se definir uma doença) do que critérios físicos.
Lester S.King (Medical Thinking)
Os fundamentos para chamar uma condição de doença residem, no final das contas, no valor para a sociedade e não em uma estimativa estatística.
Lester S.King (Medical Thinking)
... chamá-los ou não de doença é um julgamento da sociedade.
Lester S.King (Medical Thinking)
... pois a doença, em si, é uma perturbação que não contém elementos essencialmente diferentes daqueles da saúde, mas elementos apresentados em uma ordem diferente e menos útil.
Lester S.King (Medical Thinking)
Doença consiste em desabilitação julgada pelo que era considerado normal.
Lester S.King (Medical Thinking)
As classificações foram feitas para serem usadas. Se houver um conflito entre uso e lógica, então a lógica vai para o espaço.
Lester S.King (Medical Thinking)
Infelizmente, hoje estamos obcecados com a noção de causa e não nos incomodamos em classificar a confusão inerente a esse termo.
Lester S.King (Medical Thinking)
Para o clínico, "uso" refere-se ao valor em promover a cura. Na pesquisa, todavia, "uso" pode referir-se ao valor de promover o entendimento.
Lester S.King (Medical Thinking)
Um sintoma - um fenômeno relevante para a saúde - torna-se um sinal quando aplicamos a ele raciocínio e julgamento e chegamos a uma conclusão não presente na percepção original.
Lester S.King (Medical Thinking)
Um sinal, essencialmente, é a conclusão que a mente deriva de sintomas aparentes aos sentidos enquanto um sintoma é apenas uma questão de percepção dos sentidos.
Lester S.King (Medical Thinking)
Os sinais são transmudados em conhecimento não por percepção sensória direta, mas por um processo de raciocínio.
Lester S.King (Medical Thinking)
Se os antigos procedimentos e asserções (ora) nos parecem absurdos, não devemos concluir que eles eram absurdos.
Lester S.King (Medical Thinking)
Se nós substituíssemos a palavra "uso" pela palavra "valor", e perguntássemos então "Qual é o valor da história da Medicina?" nós teríamos uma maior área de movimento. Deixaria de haver uma questão prática e estaríamos entrando em outra dimensão.
Lester S.King (Medical Thinking)
Apenas quando "self" e corpo podem explorar adequadamente poços das experiências profundas para conhecer e enfrentar um desafio, podemos falar de real identidade.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
... alguns aspectos desse corpo, na experiência individual, têm mais importância que outros.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
O clínico de hoje tem de reconhecer que a atual taxionomia das doenças é arbitrária, imperfeita e mutável e, ao mesmo tempo, entender que não podemos passar sem ela.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
... pois todas as perguntas que temos de responder são questões de fins e de meios.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
A conceituação das metas da Medicina pode, é fato, estar enraizada na ciência e ter algum conteúdo científico, mas também tem de ter um conceito de valor ou algum outro conceito.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
A moralidade externa remete ao preceito de honestidade, enquanto que a moralidade interna focaliza o que é melhor para a recuperação do paciente.
John Ladd (The Internal Morality of Medicine)
A conduta moral, ..., não é um adjunto à boa Medicina, mas intrínseca a ela.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
As situações dramáticas de vida ou morte... são difíceis, mas são ocorrências relativamente raras para o médico comum.
Albert R. Jonsen (The Clinical Encounter - The Moral Fiber of the Patient-Physician Relationship)
Medicina, então, é todas as três - ciência, arte e virtude sinérgica, integralmente unidas nas atividades diárias do médico. Desarticular um dos membros dessa tríade dos outros é desmembrar a Medicina - cuja característica essencial é a relação especial que une ao outro. Quando isso acontece, aí pode existir um cientista, um artista ou um prático, mas não um médico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Medicina existe como Medicina apenas quando se ocupa integralmente das atividades que constituem o julgamento clínico e que leva à ação decisiva no interesse de um paciente particular.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A ação decisiva freqüentemente envolve contraposições do que é bom cientificamente, o que o médico acha que é bom e o que o paciente aceita como bom.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A ação correta - a melhor para um determinado paciente - nem sempre é sinônimo da ação deduzida logicamente ou cientificamente.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Quanto mais perto chegamos ao fim do processo do julgamento clínico - a ação correta - menos útil e menos aproveitável é o modelo científico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
A decisão clínica pode se tornar logicamente mais rigorosa sem que tudo seja reduzido a algoritmos ou equações regressivas.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
O enigma continua hoje na crescente tensão entre os modelos científico-atuarial e artístico-institucional do julgamento clínico.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
O médico precisa aprender a separar a observação de sua interpretação.
Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)
Não apenas os sintomas, mas também a totalidade dos significados e a ação que segue esses significados são a doença.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
Um segundo plano da subjetividade é a atribuição de valor à experiência.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
Assim como o inconsciente fala, a ele pode-se falar.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
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