Talvez fosse útil ao médico que se destine à clínica submeter-se a exame, se não psicanalítico, psicológico, em que fossem consideradas suas experiências íntimas.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
... do homem que de indivíduo biológico passe a pessoa, a membro de grupo, a participante de instituição, a agente de processo social.
Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)
Estudo recente indica que os médicos que descobrem no próprio organismo sintomas do câncer retardam - mais que outros profissionais do mesmo nível de educação - o recurso ao diagnóstico e ao tratamento profissionais: estão bem conscientes do seu valor sobretudo ritual.
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)
... O balanço entre o ser e o corpo foi alterado. O corpo tornou-se uma coisa estranha, perigosa.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Seu erro é confundir ele mesmo, o homem, com ele mesmo, o médico. Como homem ele não é, na verdade, em nada diferente dos demais, mas como médico ele é o representante do corpo em sua luta contra o destino, a doença e a morte.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Sentimentos de onipotência e onisciência são tão freqüentes como aspecto da personalidade de cada médico que são praticamente uma chancela da profissão.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Algo deve ser adicionado na Medicina: uma consciência ampliada da condição humana, cidadania para o subjetivo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Medicina trata de cuidado de pessoas por pessoas, tão simplesmente.
Eric Cassell (The Healer's Art)
O sistema de pensamento médico em que foram treinados não incluía, como parte de sua preocupação profissional, aspectos de qualquer caso que caísse fora das concepções de doença.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Mais ainda, cada médico traz para as suas observações, algo de si mesmo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
... são realmente essas ciências que atraem a maior atenção, e o pensamento científico é o mais valorizado... A lógica do corpo e do sistema biológico começou a ser a sua lógica.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Doutores não tratam doença; tratam pacientes que têm doenças.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Há uma distinção entre a patologia de um órgão do corpo e a doença do homem como um todo.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Ostensivamente, o médico lida apenas com os elementos palpáveis da doença. Sua função manifesta é a cura da doença, mas sua função latente, tratar, que envolve restituir o paciente para o mundo dos saudáveis, é um segredo mesmo para ele.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Na situação aguda o seu corpo disse-lhe algo; mas quando os sintomas (e o medo) se aquietaram, sua negativa poderosa e penetrante da doença cardíaca de novo tomou conta.
Eric Cassell (The Healer's Art)
Valores estão em risco quando uma pessoa torna-se um paciente e, portanto, o auto-conceito está também em risco.
Jurret Bergsma and David Thomasma (Health Care: Its Psychossocial Dimensions)
É justo se dizer que uma das maiores contribuições de Freud para a prática médica foi recolocar a pessoa como sujeito na Medicina.
Eric Cassell (The Subjective in Clinical Judgement)
... o médico pode e deve considerá-la (a realidade do enfermo) a partir de dois pontos de vistas complementares: que o faz vê-la como "organismo pessoal" e o que conduz a poder entendê-la como "pessoa orgânica".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
É preciso, por conseguinte, se discernir com cuidado os diversos modos típicos de diagnosticar. Eu distinguirei dois: um ao qual darei o nome de "diagnóstico integral", no qual são observados todos os requisitos exigidos pela condição pessoal do enfermo, e três formas deficientes de juízo diagnóstico, respectivamente derivadas das deficiências na concepção e no proceder clínico a que chamarei de "forçada", "pragmática" e "doutrinária".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Em três ou cinco minutos pode se iniciar uma amizade médica, mas não se constituir.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... não se pode evitar que, pelo menos durante algum tempo, apareça inconvenientemente em primeiro plano uma relação pessoal com o médico, e parece mesmo, que tal influência do médico seja condição indispensável para a resolução do problema.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
"Ciência das coisas pertinentes ao amor ao corpo", chamou Platão a Medicina.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
A habitual e esquemática divisão da prática médica em atos diagnósticos e atos terapêuticos não se ajusta ao que, em sua verdadeira realidade, é a assistência ao enfermo. Há, sim, atos médicos preponderantemente diagnósticos e atos médicos preponderantemente terapêuticos; porém nunca o todo de uma relação médica deixa de atualizar-se em cada um dos lapsos temporais em que, de fato, se realizam.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... Neste sentido não são verdadeiros atos médicos - são apenas práticas auxiliares dos mesmos - a obtenção de uma radiografia, a prática de uma biópsia ou a retirada de sangue para uma análise imunológica ou bioquímica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
O enfermo, a enfermidade e o médico compõem o exercício da Medicina, rezava uma sentença hipocrática.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
O eu do qual o médico pratica sua profissão é um ego adiuvans; e se sua vocação e sua vontade de ajudar o enfermo são profundas e conseqüentes, não o tratará, por fim, como um objeto mais ou menos valioso, mesmo quando em sua relação com ele se veja obrigado a objetivá-lo, senão como uma "pessoa doente e necessitada".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... o modo ideal da relação médica - a que se estabelece entre um médico com tal vocação e tempo suficiente, e um enfermo com autêntica vontade de cura, sem uma mentalidade mágica ou supersticiosa especialmente expressa e com alguma confiança na capacidade técnica e na pessoa de quem lhe atende - está muito longe de ocorrer em todos os casos.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Uma intervenção cirúrgica é, antes de tudo, uma relação objetivante: nada mais óbvio; mas também, por mais tênue e subtilmente que se queira, a manifestação visível de uma relação inter-humana co-executiva e interpessoal.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
... porque a esfera do "para mim-próprio" está integrada por outras duas, fenomenologicamente e psicologicamente demarcadas entre si: a esfera do "em-mim"e a esfera do "o meu".
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
"O médico deve ter em conta em seus tratamentos considerações de ordem familiar e moral que nada têm a ver com a ciência", disse por todos Claude Bernard.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Em suma, a relação médica é uma cooperação quase-diádica de ajuda, endereçada à reconquista por parte do enfermo do hábito psico-orgânico a que damos o nome de saúde.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Assim, a amizade peculiar entre médico e paciente - a "amizade médica" de que falaremos adiante - se encontra, todavia, mais afastada da pura amizade interpessoal do que a amizade pedagógica; ... está muito próxima ao amor distante da objetivação benevolente que antes descrevi.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Pode ser satisfatória uma Medicina que pragmaticamente desconhece a índole pessoal da realidade sobre a qual atua?
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Três planos devem ser metodicamente discernidos, de acordo com o que dissemos, na unitária realidade da relação médica: esta é, com efeito, relação inter-humana, relação de ajuda e relação técnica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
Que um homem preste ajuda em mister de outro; tal é o fundamento genérico da relação médica.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
É certo que a mentalidade técnica imaginou ou sonhou a utopia de um diagnóstico baseado em dados puramente objetivos (cifras analíticas, traçados gráficos) e um tratamento limitado a execução de prescrições escritas e automaticamente derivados daquele diagnóstico; em suma, a existência futura de uma Medicina sem médico.
Pedro Laín-Entralgo (Antropologia Médica)
|
|