Não
sei porque, tive ímpetos de falar dos meus
“heróis”. Acho que isso estava
fermentando dentro de minha cabeça e o fato
de você ter dito que gostaria de saber tudo
a meu respeito tenha feito com que eu colocasse
minhas idéias em papel e as enviasse.
LITERATURA: Goethe, ímpar
dos ímpares, do qual pouco li mas com quem
me identifico. Pena que tenha nascido em Frankfurt,
cidade hoje, pelo menos para mim, sem o menor
interesse, muito americanizada. Além do
mais brilhava com sua inteligência e eu,
muito pouco modesto, me identifico com isso também.
Na língua portuguesa Eça de Queiroz
cuja obra devorei ainda solteiro, por volta dos
15 anos, na casa de um grande amigo, Luiz Eduardo
Guinle, numas férias em Teresópolis.
“A Ilustre Casa de Ramirez”, “A
Cidade e as Serras”, o “Mandarim”
e a “Relíquia” são as
que mais me marcaram. Confesso que o “Primo
Basílio” tem algo a ver comigo assim
como “O Crime do Padre Amaro”. Um
dia vou relê-las.
POESIA: Antonio Machado, espanhol
de Soria. Pérolas e Diamantes em sínteses
poéticas e sempre com a profunda colocação
a respeito do outro e do si mesmo emergente da
profundidade. Definiu-me a mim, entre talvez tantas
outras de suas obras, em “O Marinheiro e
o Jardineiro”. Deu o grande grito em direção
à criatividade quando falou de ecos e vozes;
tornou-se popular com o poema do caminhante; lá
embaixo vou transcrever algumas obras que cito
no texto. Dos brasileiro Augusto dos Anjos da
terra de meu pai, o “poeta negro”
do Brasil com seus escândalos verbais, com
seu pessimismo biológico e bioquímico,
com suas fantásticas falas de um egresso
precoce da escola médica.
MÚSICA CLÁSSICA:
Liszt, de longe o que mais me enleva e entusiasma
por tudo o que ele representou: o compositor,
o pianista, o conquistador, o bom caráter
que ajudava seus futuros concorrentes (Dizem que
uma noite ele se propôs a tocar no escuro.
Tocou divinamente, como nunca. No final, em meio
aos aplausos, mandou acenderem a iluminação
e viu-se que não era ele o pianista, mas
Chopin que se iniciava na carreira ainda sem muita
aceitação). Suas Rapsódias
Húngaras me calam fundo, em especial a
número 2 (já meio batida), a número
6 e a Campanella (acho que é a número
9). Chopin também está entre os
meus favoritos quando quero ouvir música
mais “ligeira” (adoro suas Mazurkas),
e entre ambos está a genialidade e a musicalidade
de Mozart. E quando eu quero dar um mergulho mais
profundo, em minhas regiões abissais apelo
para o sagitariano Beethoven - a música
sintetizada em uma só pessoa.
MÚSICA POPULAR: Jacques
Brel, sem dúvida alguma. Minha identificação
com ele é quase total. Viajo ouvindo suas
letras e, ao contrário de todos os que
escrevem a seu respeito, contrário inclusive
à declarações do próprio
Brel, considero a simplicidade de sua linha melódica
de uma poesia sem par. Acho que é justamente
essa simplicidade que faz com que ela seja um
perfeito pano de fundo para as suas letras eminentemente
poéticas, simbólicas e/ou realistas.
No Brasil gosto do Moraes Moreira principalmente
dos seus frevos (lembre que sou ¾ nordestino).
Dos mais conhecidos acho que as composições
do Erasmo Carlos, algumas letras do Chico Buarque
(perde-se na música, absolutamente repetitivo)
e do Caetano Veloso.
FILOSOFIA: da Grécia,
Sócrates, que nada escreveu e que introduziu
a maiêutica, para mim o mais perfeito método
de se “conversar” a respeito de filosofia.
O termo, inclusive me parece perfeito. Heráclito
e seu Rio são também, para mim,
fonte de constante inspiração. Mais
recente, Hegel, não tanto pelo seu sistema
monolítico (gosta da idéia como
integração sistemática e
não tanto da idéia como um sistema
monopolista), mas por sua fenomenologia do espírito.
O passeio do Universal Abstrato em direção
ao Universal Concreto é uma lição
constante em minha vido no que diz respeito a
reflexões (não sei se outros têm
essa leitura, mas eu tenho). Dos modernos, um
considerado mais leve é “Ortega y
Gasset” que produziu um dos livros mais
poéticos da literatura filosófica
(Meditationes del Quijote) e que tem a que é
para mim a frase síntese da vida comunitária
ou da cidadania: “Yo soy yo y mi circumstancia”.