Fernando Paulino
por
Luiz Roberto Londres
Prólogo: Um dia me disseram: "Fernando é um gerúndio!" Quanta verdade!
1o Ato: Ano de 1953, Casa de Saúde São Miguel, eu operado por ele de hérnia inguinal, tudo funcionando bem até demais: por um lado Pina a enfermeira italiana vinha todos os dias me dar banho e pelo outro as visitas de meus amigos e colegas eram cerceadas por um cumprimento rígido das normas da casa. Um dia meu amigo e companheiro de carteira escolar José Eduardo passou do horário e, ao percebermos a vinda da "tropa" médica ele entrou no banheiro de luz apagada para aguardando a retirada. A "tropa" entra e seu capitão imediatamente se dirige ao banheiro e, sem dizer palavra, abre a porta e acende a luz. Não sei o José Eduardo mas eu, só não morri porque esperava Pina no dia seguinte.
2o Ato: Ano de 1969 eu, hemodinamicista no IECAC, instituição fundada por meu pai e tinha altos papos com meu querido chefe Stans Murad Neto, falando de meus projetos e de como minha vida havia mudado ao ter tido o meu quarto filho no meu segundo ano de casado. Um dia Stans me diz: "Dr. Fernando quer falar com você, contei suas idéias para ele e lhe espera sábado às 9 horas. Lá fui eu e, imediatamente após o cumprimento disse-me ele: "Estou bem, aqui nesse hospital, mas gosto de planos!" A partir desse ponto eu passei a ser uma ponte entre ele e meu arquiteto Rolf Hutter. Em nove meses não mais outra leva de trigêmeos, mas um centro cirúrgico feito sob medida para um cirurgião mais exigente do que ele mesmo.
3o Ato: 1971 a 1974: quase quatro anos que valeram mais que quarenta. Inacreditável o poder que tem uma personalidade de mestre. Sua vinda foi o mais perfeito aval que eu poderia querer. Um dia vi a mudança saindo de seu consultório. Ele estava no seu sítio em Itaipava, liguei para Dona Marita, sua esposa que de nada sabia. Peguei meu carro sábado cedo e fui vê-lo. Como diria meu amigo e colega Feliciano Azevedo, "Foi quase romântico!". Mas eu sabia que os caminhos passariam a correr não mais juntos, mas sempre paralelos. Deixou impregnada na instituição a sua personalidade de exigência e seriedade. Fundou o Centro de Estudos Genival Londres homenageando meu Pai, mostrando claramente que um hospital não se esgota no atendimento. Juntamente com a equipe, deixava de cobrar quando o paciente complicava e vinha à minha sala solicitar um abatimento no preço da diária: "Ele já está punido pela doença, vamos tentar aliviar um pouco!" Como meu Pai, e tantos outros mestres, Carlos Chagas Filho, Clementino Fraga Filho, Danilo Perestrello, Aarão Benchimol e tantos outros, era a Ética Personificada.
Epílogo: não há epílogo, pois sua presença sempre permanecerá. É um gerúndio, lembram-se?