A Medicina da Pessoa - Danilo Perestrello
por Luiz Roberto Londres
1- Em sua opinião que tipo de influência teve Perestrello no meio médico de sua época?
Como acontece com todo clarividente e com todo bom vinho o reconhecimento e a influência de Perestrello teve, em sua época, a importância de uma semente. Uma semente gerando uma árvore com ramos e flores, flores essas, por sua vez, fecundando com dificuldade um solo que se encontrava em uma crescente aridez e que se tornava, aos poucos, um desolado deserto: o solo do humanismo na Medicina. À medida que a árvore se tornava frondosa, o solo se enriquecia, cada vez mais fértil e nele novas sementes germinavam. A sombra, crescia e é à sombra que podemos entender melhor a aridez em que se vivia. A necessidade de sobreviver fazia com que as atenções se voltassem apenas para a melhoria possível das condições dessa aridez. Não se pensava em recorrer à sombra, pois sombra era coisa do passado. Mas a semente plantada por Perestrello torna-se uma bela floresta e passa a ser reconhecida. Ah! As plantas espinhosas sentem falta da aridez que, aos poucos, abandona o solo em que vivem.
2- O que você pensa sobre o livro Medicina da Pessoa? Ele ainda é importante para o estudante de Medicina de hoje ou para o médico em geral?
Uma Bíblia e um Dom Quixote! E também um texto de Shakespeare, um quadro de Van Gogh, um poema de Dante, um pensamento de Goethe, uma Sinfonia de Beethoven. O que eu quis dizer? Duas coisas: uma obra de arte que se consolida com o tempo e pelo tempo se torna conhecida e um forte chamado para que a Medicina deixe o "surrealismo" da tecnologia e volte a privilegiar o seu campo, tão mais simples, tão mais efetivo, o campo do encontro pessoal, o campo eminentemente humano. Uma obra cuja importância para o estudante ou para o médico em geral cresce à medida que o clamor pelo humanismo de quem pratica se junta aos clamores por economia de quem paga e por satisfação de quem usa.
3- Como você define a Medicina da Pessoa?
Como um pleonasmo! Como se tivéssemos que dizer a Botânica dos Vegetais ou a Veterinária dos Animais. Falava Nelson Rodrigues da dificuldade de se enxergar o óbvio ululante. Pois bem, Perestrello viu! E eu tive a honra de ver Perestrello e com ele conviver; por um breve período, é verdade, mas que definiu e coloriu minha visão da Medicina, tanto a que eu praticava quanto a procuro construir institucionalmente. Perestrello reinventou a prática médica provocando um moderno retorno ao passado, um vôo mais alto em direção às raízes da Medicina. Aprendi com ele e com Abram Eksterman a diferença entre corpos e pessoas, entre biologia e biografia, entre o isolamento individual e a criação do elo que une duas pessoas, que une o eu e o outro, que une o médico e seu paciente.