01.jul.2025



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Na realidade, porém, é raro o doente e é rara a doença que existam independentes de suas circunstâncias. E estas são socioculturais. São ecológicas. Exigem do médico uma perspectiva que exceda à estritamente médica.

Gilberto Freyre (Médicos, Doentes e Contextos Sociais)

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Setenta anos de histórias na Clínica São Vicente
por Luiz Roberto Londres

                                         Despertad cantores
                                              Acaben los ecos
                                         Empiecen las voces
 
                                                                Antonio Machado

Prezado Doutor, essa fala é dirigida aos colegas que temos, tivemos ou teremos a honra de ter em nossa companhia. Saudades, realizações e projetos enriquecem qualquer existência. Ter vivido, viver ou projetar momentos que, de uma forma ou de outra, entram para alguma história, nos faz transcender nosso tempo, nossa competência, nos joga inevitavelmente em um passado histórico que será degustado em alguns futuros; como hoje, nesses 70 anos.

Vamos eleger um dentre vós para que receba minhas palavras e as "distribua" entre todos vocês, aqui presentes ou não. Aliás, isso nem é preciso, o próprio João Máximo farejou aquele que seria o grande contador de nossas histórias, aquele que viveu nossa história desde que começou a viver a sua. Vizinhos de consultório na Avenida Graça Aranha, eram nossos pais. Segundo sua verve, andávamos de velocípede nos terrenos da clínica em meio a canteiros de obras e futebol de peões. Digamos, um início já peculiar para um hospital ou mesmo uma instituição qualquer, por onde transitaram cofres improvisados de latas de torradas Colombo e Imortais da Academia Brasileira de Letras. Meu caro Sérgio Novis, você chegou a este hospital antes de mim e o que gostaria de lhe pedir é que você pudesse aqui continuar, seja por qual motivo for, depois de mim. Isso pode ser uma figura simbólica, mas é extremamente sincera!

Médicos são médicos mas sem todos aqueles que com eles atendem pacientes pouco poderiam fazer nos nossos dias. E também aqui gostaria de me dirigir aos demais membros de uma equipe de saúde e eleger uma pessoa, dentre tantos colaboradores para representá-los, uma pessoa que considero ter conosco uma eterna identidade (ou uma idêntica eternidade, se assim preferirem). Começou como técnica lidando com respiradores graduou-se em enfermagem, assumiu a chefia, implantou em tempo absolutamente recorde a ISO 9002 em todo o hospital, fato até então inexistente em todas as Américas, implantou os processos de qualidade e, mesmo tendo seguido um caminho de realização pessoal permanece a nós indissoluvelmente ligada. Simplesmente Marilena.

Tenho muita responsabilidade em tudo o que aconteceu, de bom e de mau. Mas sou apenas uma peça específica, uma pessoa muito peculiar em sua função. É preciso primeiro que se diga de uma faceta extremamente anacrônica e desvalorizada nos dias de hoje: a eleição do cuidado do paciente como o foco absoluto de todas as nossas ações, do médico como o responsável a ser respeitado em todos os seus passos e a relação entre ambos como um ente real, indissolúvel. Isto, para todos nós, é a verdadeira Medicina. Tudo o mais, seja no campo do ensino ou da pesquisa, das ciências sejam elas as ciências médicas, administrativas ou financeiras, são colaborações importantes mas complementares ao benefício do paciente à atividade do médico e à relação entre ambos. Medicina, senhores, não é uma ciência; é uma bela Arte.

Neste caminho principal temos evoluído, por vezes involuído (lembro aqui uma lição particular do saudoso Jayme Rodrigues: "Londres, mude sempre nem que seja para pior!"). Melhor as correções  de rotas que o imobilismo anacrônico já em seu segundo dia. Neste caminho criamos fatos e percepções as mais diversas, sejam elas falsas ou verdadeiras, positivas ou negativas, de admiração ou de despeito. Já fomos vendidos para a IBM quando estávamos preparando mudanças substanciais, já fomos vendidos para o Banco Bozzano Simonsen, já fomos vendidos para um grupo sueco, mais recentemente para um grupo português, já fomos até anunciados em jornais internacionais. Esses comentários no início nos incomodavam, agora nos deixam um tanto prosa. Afinal, por algum motivo estamos freqüentemente em foco. Enquanto esses passeios recreativos são feitos preferimos nos ocupar de nossa missão que, no nosso caso, transcende a própria atividade médica para se espraiar ao campo das idéias, das idéias de cidadania médica e geral, das idéias construtivas em uma época extremamente destrutiva, de uma época que costuma dar a sensação de que a humanidade está chegando a uma encruzilhada onde vai optar de vez entre a colaboração fraterna e a luta regressiva, talvez final.

Com esse pensamento, gostaria de dar a mensagem que considero a mais importante de todas. Fala-se hoje e muito da humanização da Medicina. Pois bem, ela não será possível sem a prévia humanização do ser humano. Por incrível que pareça esta é uma necessidade real, atual e pouco percebida por quase todos. Falo da perda do senso crítico, da capacidade de raciocínio, da noção de que as nossas idéias não são necessariamente verdadeiras, que nossa visão do mundo tão mais parcial será quanto mais nos isolarmos em nós mesmos e nos nossos grupos, quanto mais aceitarmos o que nos transmitem sem percebermos porque e como nos transmitem.




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